Qual é a ligação entre investigações sobre PCC e Corinthians? Veja o que se sabe sobre a empresa UJ Football


Delação e documentos revelam possível uso de patrocínio do Corinthians para lavar dinheiro do crime organizado O circuito de empresas por onde passou dinheiro do contrato de patrocínio do Corinthians
O aprofundamento das investigações sobre lavagem de dinheiro em um acordo de patrocínio encontrou uma relação do Corinthias com a empresa UJ Football Talent, citada na delação premiada de Vinicius Gritzbach. O empresário foi executado em 8 de novembro de 2024, no terminal 2 do Aeroporto Internacional de Guarulhos. Segundo a polícia, essa empresa é considerada um dos braços do Primeiro Comando da Capital (PCC) no mercado do futebol.
De acordo com a investigação, Ulisses de Souza Jorge aparece como dono da UJ, mas nos depoimentos aos promotores, Gritzbach afirmou que Danilo Lima de Oliveira, conhecido como Danilo Tripa teria participação na empresa.
“Ele seria narcotraficante, inclusive teria levado Vinicius (Gritzbach) para julgamento perante o tribunal do crime”, diz Juliano Cartvalho Atoji, promotor de Justiça de SP. Em trecho da delação, Gritzbach afirma que Danilo Tripa o teria ameaçado com uma arma. Os bandidos acusavam Gritzbach de mandar matar o traficante do PCC Anselmo “Cara Preta”, em 2021, para roubar R$ 30 milhões em criptomoedas. “Esses narcotraficantes lavam dinheiro com o agenciamento de jogadores de futebol, obviamente esses jogadores não têm ciência disso”, continua o promotor.
Em uma foto que faz parte da investigação, Ulisses e Tripa aparecem juntos em uma visita à sede do Barcelona, na Espanha. Em comunicado, a assessoria da UJ disse que “a empresa nunca teve envolvimento com o crime organizado e que o dinheiro que recebeu da empresa Wave foi referente à comissão pela intermediação da transferência do atleta (Emerson Royal) ao clube Barcelona em 2019”.
A empresa de agenciamento UJ Football Talent recebeu mais de R$ 800 mil do Corinthians.
TV Globo/Reprodução
No entanto, a reportagem do Fantástico verificou que a Wave, empresa que repassou para a UJ mais de R$ 800 mil, foi fundada em 2022, três anos depois da contratação do jogador. Em resposta ao programa, os advogados da UJ disseram que “Danilo Lima não é, nunca foi associado, não possui qualquer vínculo societário, contratual, funcional ou informal com a empresa”.
“A única ocasião em que houve algum relacionamento foi quando da apresentação informação do atleta. No que diz respeito aos valores recebidos pela UJ, depositados pela empresa Wave, esclareça-se que estes foram oriundos de negócios lícitos, devidamente tributados e declarados às autoridades competentes”, diz a nota. A empresa, no entanto, não explica a origem dos depósitos.
No caso do Corinthians, os investigadores suspeitam que a UJ serviu como destino final do dinheiro desviado do contrato de patrocínio. Rubens Gomes da Silva, ex-apoiador do presidente do clube, Augusto Melo, disse à polícia que empresas de agenciamento de jogadores ajudaram a financiar a campanha eleitoral de Augusto. Durante seu depoimento, Rubens disse não lembrar da UJ como um dos doadores. Augusto nega que isso tenha acontecido.
Como a investigação chegou à relação da UJ com o Corinthians?
A Wave Intermediações e Tecnologias, que, segundo o proprietário, fazia intermediações com criptomoedas, foi apontada como uma das empresas envolvidas na lavagem de dinheiro recebido pelo Corinthians da casa de apostas Vai de Bet.
Um relatório da Polícia Civil de São Paulo aponta que a Wave teria recebido dinheiro do contrato entre o clube paulistano e a empresa de apostas no valor de R$ 370 milhões. O acordo de patrocínio assinado em janeiro de 2024 foi rompido em julho do mesmo ano, quando começou a ser revelado o caminho percorrido pelo dinheiro da comissão.
Em março, o clube mandou R$ 1,4 milhão para a empresa Rede Social Media Design. Uma semana depois, ela fez dois pagamentos à Neoway Soluções Integradas, que somavam mais de um milhão de reais. Edna Oliveira do Santos, que vivia em uma casa de um cômodo na Baixada Santista, e que aparece como proprietária da Neoway, diz nunca ter ouvido falar da empresa. A polícia acredita que ela foi usada como laranja.
Inauê Santiago Carneiro, sócio da Wave, negou ter recebido qualquer valor em suas contas pessoais e jurídicas.
TV Globo/Reprodução
Já a Neoway repassou um milhão de reais para a Wave, que, por sua vez, repassou para a UJ Football Talent. De acordo com a investigação, parte da comissão paga pela casa de apostas Vai de Bet foi repassada para a UJ.
O Fantástico conversou com o sócio da Wave Intermediações e Tecnologias, que foi apontada como uma das empresas envolvidas na lavagem de dinheiro recebido pelo Corinthians da Vai de Bet.
Inauê Santiago Carneiro, sócio da Wave, declarou: “Eu fechei a empresa… A gente fazia intermediação de criptomoedas”. Ele negou ter recebido qualquer valor em suas contas pessoais e jurídicas.
A reportagem do Fantástico recapitulou o esquema de lavagem de dinheiro e envolvimento com o crime organizado do contrato entre o Corinthians e a Vai de Bet, de 370 milhões de reais.
O acordo de patrocínio, assinado em janeiro de 2024, foi rompido em junho do mesmo ano, quando o fluxo de dinheiro começou a ser revelado pela Polícia Civil de São Paulo.
O que diz a defesa de Inauê
A advogada de Inauê afirmaram que não pode fazer comentários sobre o caso porque não foram formalmente notificados do inquérito. Ela pediu que o material gravado com Inauê não fosse usado na reportagem.
Como a Wave, segundo a polícia, é investigada, o Fantástico entende que a gravação com Inauê é de interesse público e amparada pelos princípios editoriais do Grupo Globo. Por isso, decidiu não atender ao pedido da defesa dele.
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