Ex-comandante do Exército sai menor do que entrou em depoimento por ‘tentar aliviar colega da marinha’, avalia STF


Integrantes da primeira turma analisam ao blog a primeira leva de depoimentos sobre tentativa de golpe; Freire Gomes confirmou reuniões que previam até prisão de ministros. General Marco Antônio Freire Gomes
Alan Santos/PR
O ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, saiu menor do que entrou na sala de audiências, nesta segunda (19), para depor sobre a trama golpista que testemunhou após a derrota de Jair Bolsonaro para Luiz Inácio Lula da Silva em 2022.
Sem conseguir mudar o conteúdo dos fatos que já havia relatado à Polícia Federal, ele tentou, na avaliação de integrantes da corte, amenizar a situação jurídica do colega que chefiava a Marinha na ocasião, único a, como ele mesmo foi obrigado a reconhecer, disse que ficaria ao lado de Bolsonaro na discussão de um estado de excessão.
As oitivas foram comandadas pelo ministro Alexandre de Moraes e acompanhadas pelos demais integrantes da primeira turma. Ministros ouvidos pelo blog destacam que, apesar da tentativa de recuar no tom, Freire Gomes acabou por confirmar os fatos mais graves que circundam o processo contra Bolsonaro e aliados.
O ex-comandante do Exército relatou reuniões –no plural– para debater minutas –no plural– golpistas. “O genera confirmou que a minuta foi apresentada várias vezes –e que ela foi lida na frente de Bolsonaro. O documento, ele também confirmou, previa até a prisão de integrante do Supremo, o que nem a ditadura de 1964 ousou fazer”, relata um integrante da corte.
“Na ditadura, só foram cassar 3 ministros do STF em 16 de janeiro de 1969, depois do AI-5. Cassar. E ali já estavam consolidados no poder”, contextualiza o ministro.
Na avaliação dos integrantes da turma, Freire Gomes tentou aliviar a situação do almirante Garnier, que comandava a Marinha, ao dizer que não poderia interpretar o que o colega quis dizer ao afirmar que ficaria ao lado de Bolsonaro quando do debate da minuta golpista.
Sem poder mudar o essencial no depoimento, o general acabou se apequenando aos olhos do STF e, mais, piorando a avaliação que havia até então sobre o legalismo dos antigos integrantes da cúpula das forças armadas. “A impressão é que só não aderiram ao golpe por dois motivos: 1) viram despreparo e desespero na liderança do Bolsonaro; e 2)perceberam que o Judiciário iria resistir até o fim e que precisariam prender ou matar ministros.”
Outro depoimento que chamou atenção dos integrantes da Primeira Turma foi o de um agente da Polícia Rodoviária Federal que disse ter recebido uma ordem direta para bloquear o acesso de eleitores do Nordeste às urnas no segundo turno da eleição de 2022. Na ocasião, a PRF produziu uma série de blitze na região onde a maioria do eleitorado é lulista.
O agente relatou aos ministros que houve determinação para a PRF “tomar um lado” na disputa e ainda atribuiu o direcionamento ao ex-diretor-geral do órgão, Silvinei Vasques.
No fim, o saldo do primeiro dia de depoimentos foi amargo, processualmente, para Bolsonaro e seus aliados, com a confirmação, pelas testemunhas, dos fatos mais graves relatados na denúncia.
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