Professor afastado após denúncia de importunação sexual no litoral de SP alega que realizava exame biométrico nas alunas


Homem, de 54 anos, nega que tenha cometido o crime em São Vicente, no litoral de São Paulo. O profissional tem 15 anos de experiência na docência. Exame biométrico consiste em uma avaliação para conhecer o estado físico das pessoas com base em medidas, como peso, altura, entre outros
Rawpixel
O professor de Educação Física acusado de importunação sexual contra alunas de uma escola municipal em São Vicente, no litoral de São Paulo, nega que tenha cometido qualquer ato criminoso. Ao g1, ele alegou que as acusações foram motivadas por uma aula com exame biométrico, que é uma avaliação para conhecer o estado físico das pessoas com base em medidas, como peso e altura, que fez em todos os estudantes.
✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Santos no WhatsApp.
O caso ocorreu na Escola Municipal Francisco Martins dos Santos. Segundo o pai de uma das alunas do 5º ano do Ensino Fundamental, os abusos aconteceram dentro da sala de aula. O professor foi afastado da função cautelarmente para o andamento do processo e o serviço de escuta especializada deu início ao acompanhamento do caso, oferecendo apoio psicológico às estudantes.
Em nota, o advogado Alexander Neves Lopes, que representa o professor, esclareceu que o homem não é titular da unidade escolar e estava apenas cobrindo a licença de 30 dias da professora de Educação Física da turma.
“Ele nega veementemente todos os fatos registrado no Boletim de Ocorrência confeccionado em seu desfavor”, afirmou Lopes, dizendo que o cliente prestou depoimento na Polícia Civil e segue à disposição das autoridades.
Ao g1, o homem – que terá a identidade preservada – contou que é casado, pai de quatro filhos e trabalha como professor há mais de 15 anos. Ele disse que jamais encostou nas alunas com outra intenção a não ser medir a altura e o peso delas para o exame biométrico.
“Eu tenho uma carreira sem nunca ter tido um arranhão. Nunca tive um comentário ruim”, afirmou o homem, de 54 anos.
De acordo com o docente, ele foi surpreendido ao ser informado sobre as acusações na diretoria, pois realizou o exame biométrico no dia 23 de abril e as denúncias só foram registradas em 14 de maio, que seria seu último dia de atuação na escola.
“O diretor questionou a menina que falou sobre a mão na região do seio, perguntando se eu tinha passado ou deslizado a mão nela. Ela falou que não, que eu tinha colocado somente a mão para ajustá-la na parede e tirado. E, mesmo assim, isso não ocorreu. Nem dela, muito menos ter pegado no pescoço de alguém para ficar doendo e ter empurrado alguém na parede pela cintura”, relembrou.
Segundo o professor, no dia do exame, ele deixou uma trena presa na parede para os alunos encostarem para medição da altura. “O máximo que acontecia era eu pedir a licença, colocar a mão no queixo e levantar um pouco a cabeça [dos alunos] para ajustar na altura. Assim, eu colocava um lápis e marcava onde eles estavam e passava para o meu caderno”, explicou.
De acordo com ele, os alunos montaram uma ficha médica com as próprias medidas nos cadernos no dia do exame biométrico, que foi praticamente a primeira aula com a turma, pois a anterior havia sido véspera de feriado e tinha poucos alunos. Ele disse, inclusive, que havia usado o momento para explicar como agiria no tempo em que substituiria a professora afastada.
Ele lamentou não ter sido procurado pela administração municipal para ser ouvido. “Sei que são crianças. Eu também tenho um filho de 10 anos, na mesma idade, na mesma série, inclusive que essas meninas são. É claro que a primeira preocupação deles, mas eu sou um ser humano, um professor de carreira. Eu tenho uma história na prefeitura”, afirmou.
Professor á afastado após ser acusado de importunação sexual contra cinco alunas em São Vicente
Divulgação
Agressões
O professor chegou a ser agredido pelos pais de uma das estudantes quando foi informado sobre as denúncias pela diretoria.
“Entraram separados de forma traiçoeira, porque eu não consegui ver que era um casal. A mulher veio na minha direção e me deu um tapa na cara. Na sequência, o pai traíra, me deu um soco por cima dela. Ele era bem alto, na minha cara, e eu caí no chão”, relembrou.
Consequências
Segundo o professor, os filhos dele ficaram extremamente abalados com a repercussão das denúncias. O mais novo, inclusive, ficou sem frequentar a escola. “É uma situação horrível, eu me sinto destruído”, disse o homem.
Apesar disso, ele recebeu apoio de familiares, amigos e mensagens solidárias de ex-estudantes. “Tenho tatuado no meu braço duas palavras: paciência e ressignificação. Paciência porque eu operei um câncer há 4 anos e foi a palavra que eu mais ouvi de todos os médicos que eu passei. Então, eu estou vencendo o câncer, graças a Deus, e ressignificação porque uma psicóloga que me atendeu antes de iniciar as sessões de radioterapia, ela disse que eu tinha um poder de ressignificação”.
Ele acredita que pode ser exonerado da Prefeitura de São Vicente, mas tem fé de que a Justiça será feita, pois “está com a consciência tranquila”. “A Justiça dos homens é uma e a de Deus é outra. Eu tenho muita fé em Deus e eu sei que eu não fiz nada. E eu não nasci concursado”.
Prefeitura
Em nota, a Prefeitura de São Vicente informou que está aguardando informações oficiais das autoridades para dar prosseguimento às medidas necessárias. “A administração municipal salienta que não há orientação pedagógica para exame biométrico em aulas de educação física”, afirmou.
Ainda segundo a prefeitura, o professor terá direito de prestar esclarecimentos. “O afastamento é cautelar e necessário para o andamento do processo. Há os trâmites legais, que incluem, também, o direito de defesa. O afastamento se dá para resguardar os direitos dos envolvidos, tanto das estudantes quanto do professor. Todavia, vale ressaltar que, caso comprovadas tais acusações, o acusado estará sujeito a exoneração”.
De acordo com a administração municipal, as alunas envolvidas estão recebendo suporte, com acompanhamento diário da equipe de supervisão de ensino. “Por fim, a Seduc ressalta que não tolera ocorrências de assédio e respeita os trâmites legais dos órgãos de Justiça para tomar as providências cabíveis”.
Importunação sexual: o que é e como denunciar?
VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos
Bookmark the permalink.