VÍDEO: farinha começa a chegar, e padarias em Gaza reabrem para produzir pão para palestinos


Após dois meses de bloqueio israelense, a chegada de ajuda humanitária permitiu gradual retomada de produção de alimentos no território nesta quinta (22). Suprimentos entrando em Gaza ainda são limitados, e comunidade internacional pressiona por celeridade. Palestinos reativam padaria e fazem pães para distribuir à população de Gaza
A agência de alimentos da ONU disse que “algumas” padarias que ela apoia no sul e centro da Faixa de Gaza retomaram a produção de pão nesta quinta-feira (22) após caminhões de ajuda humanitária terem começado a entrar no território palestino com suprimentos e alimentos.
“Estamos em uma corrida contra o tempo para evitar a fome generalizada”, disse o diretor do Programa Mundial de Alimentos (WFP) no país, Antoine Renard, em comunicado a jornalistas.
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Entre os suprimentos entregues pela ajuda humanitária, que ainda representa “uma gota em um oceano”, segundo a ONU e ONGs que acompanham a situação em Gaza, está a farinha, matéria-prima do pão. Cerca de 90 caminhões entraram no território nesta quinta-feira, afirmou o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.
O reabastecimento fez com que a padaria Deir al-Balah tivesse um movimento atípico nesta quinta-feira. Diversos palestinos foram vistos na linha de produção, preparando a massa e embalando os pães, no estilo árabe, para a distribuição. (Veja no vídeo acima)
O diretor da Rede de Organizações Não Governamentais Palestinas em Gaza, Amjad al-Shawa, afirmou à agência de notícias Reuters que as padarias apoiadas pelo Programa Mundial de Alimentos da ONU produzirão o pão e a distribuição será feita pela equipe da agência —um sistema mais controlado do que o anterior, em que os padeiros vendiam diretamente ao público a preços baixos.
A retomada de produção em algumas padarias de Gaza ocorre em meio a um agravamento da crise humanitária vivida pelos 2,3 milhões de palestinos por conta da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, iniciada em outubro de 2023.
No atual momento do conflito, os palestinos já dizem temem mais a fome do que as bombas israelenses que caem em Gaza. A ONU registrou nesta semana crianças na Cidade de Gaza, no norte do território, esperando por horas em longas filas para conseguir comida.
O ministro da Saúde da Autoridade Nacional Palestina (ANP) afirmou nesta quinta-feira que 29 crianças morreram de fome na Faixa de Gaza nos últimos dias por conta da escassez de alimentos.
Palestinos produzindo pão na padaria Deir al-Balah em 22 de maio de 2025.
REUTERS/Ramadan Abed
Palestinos produzindo pão na padaria Deir al-Balah em 22 de maio de 2025.
REUTERS/Ramadan Abed
Mais medo da fome que dos bombardeios
Israel diz ter liberado 100 caminhões para entrar em Gaza, mas ainda não houve distribuição
Após dois meses de bloqueio completo da entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, esta semana, Israel permitiu que uma quantidade limitada de alimentos e outros suprimentos fossem levadas ao território após a crescente pressão internacional.
No entanto, a situação ainda é grave dentro do território palestino, alvo de uma grande ofensiva israelense.
Hosam Abu Aida, de 38 anos, morador de Beit Lahia, cidade no norte da Faixa de Gaza que está sitiada, falou à agência de notícias AFP sobre a situação no território. Como milhares de outros moradores, ele contou que vive atormentado pela falta de comida para os filhos:
“Tenho mais medo da fome e das doenças do que dos bombardeios israelenses. A fome está nos destruindo”, diz.
Caminhões carregando ajuda humanitária parados no lado israelense da passagem de Kerem Shalom, na fronteira com a Faixa de Gaza, em 20 de maio de 2025.
REUTERS/Amir Cohen
Israel anunciou que autorizou a entrada de 93 caminhões da ONU carregados com ajuda humanitária, incluindo farinha, alimentos para bebês e suprimentos médicos, nesta terça-feira (20), e outros 100 nesta quarta-feira (21).
A ONU reclama que essa ajuda é “uma gota em um oceano” de necessidades e argumenta que Israel está impedindo que a ajuda chegue à população.
“A situação é insuportável. Ninguém nos deu nada, todos estão apenas esperando. Estamos ouvindo falar de ajuda há dois dias, mas até agora não chegou nada e não recebemos nada. Apenas palavras vazias”, lamenta Um Talal al Masri, de 53 anos, da Cidade de Gaza.
ONU alerta que crianças não estão recebendo comida em Gaza devido ao bloqueio imposto por Israel.
REUTERS/Mahmoud Issa
Israel acusa o Hamas, que governa Gaza, de desviar remessas de ajuda, e o movimento islamista acusa as autoridades israelenses de usar “a fome como arma de guerra”.
“Meus filhos vão dormir com fome todos os dias. Não queremos mais promessas, queremos viver”, afirma Omar Salem, que vive em um campo de deslocados em Khan Yunis, no sul do território.
Enquanto isso, nas cozinhas comunitárias, que há semanas alertam para a falta de alimentos, a população aglomerada vai esvaziando as panelas até a última colherada. Em Nuseirat, centro de Gaza, cenas que mostram a grave situação no território são registradas.
Apesar dos perigos, muitos moradores de Gaza dizem que estão dispostos a correr qualquer risco para encontrar algo para comer.
“Não é um luxo, é uma emergência. Precisamos de tudo: comida, remédios, água potável, produtos de higiene”, resume Al Masri.
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