Fraudes no INSS: funcionário revela que empresa manipulava áudios de aposentados

Telemarketing continuava a conversa até o aposentado dizer “sim”, para manipular a gravação mais tarde – Foto: Reprodução/Freepik/ND

Um funcionário revelou que uma empresa investigada pela Polícia Federal no escândalo das fraudes no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) falsificava áudios de aposentados, com objetivo de autorizar os descontos indevidos, segundo informações do site Metrópoles.

O ex-funcionário, cuja identidade não foi divulgada, contou que a empresa de crédito consignado comprava dados pessoais de cada aposentado por R$ 50 em um mercado ilegal.

Com essas informações, a equipe era orientada a ligar para as vítimas e oferecer vantagens. Eles prometiam, inclusive, cancelar os descontos nas aposentadorias.

O verdadeiro intuito da ligação, porém, era gravar a voz do aposentado para manipular a conversa mais tarde. A empresa, em seguida, editava a gravação para uma versão em que a vítima aceitava uma oferta do atendente para se filiar às associações envolvidas nas fraudes no INSS.

“Eles ligam e dizem: ‘Boa tarde, senhor. Tudo bem? Meu nome é Fulano de Tal, trabalho com o banco X. Então, eu estou vendo aqui que o senhor tem vários empréstimos e a gente está fazendo um cadastro para que não aconteçam mais descontos ou para reduzir seu desconto’”, detalhou o ex-funcionário ao Metrópoles.

Empresa envolvida nas fraudes no INSS recebeu R$ 9 milhões da Ambec – Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Se aposentado recusasse a oferta, os atendentes continuavam a conversa até que ele dissesse “sim” e confirmasse os dados pessoais. A prática teria começado há cinco anos, quando um gerente sugeriu fraudar as gravações telefônicas para comprovar a autorização dos clientes.

“Se a gente vender mil seguros, trinta ou quarenta pessoas reclamarem, e a gente devolver o dinheiro, não tem problema. Nós vamos estar ganhando em cima 900 e tantos. No fim do ano, se a gente tiver devolvido R$ 100 mil, mesmo assim, vamos ter faturado R$ 10 milhões, entendeu?”, teria dito o gerente.

Empresa teria recebido R$ 9 bilhões nas fraudes no INSS

A firma em questão foi um dos alvos da Operação Sem Desconto da Polícia Federal. A investigação constatou que o esquema de fraudes no INSS teria desviado R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas entre 2019 e 2024, por meio de descontos associativos.

Empresa comprava dados pessoais de aposentados para aplicar golpe – Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

A empresa de crédito consignado recebeu R$ 9 milhões só da Ambec (Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos), uma das principais entidades apontadas no esquema. Conforme a Polícia Federal, a arrecadação da associação saltou de R$ 150 em 2021 para R$ 14,9 milhões em 2022.

O ex-funcionário observa que a prática de gravações fraudulentas foi adotada por outras empresas de crédito consignado. Aposentados que não autorizaram os descontos já denunciaram os áudios falsificados, usados pelas companhias para impedir a indenização.