‘No dente de cachorro’, filme produzido no AC, vai ser exibido em evento no RJ


A expressão faz referência a uma época em que mulheres indígenas eram pegas nas matas para servirem como escravas sexuais dos seringueiros. Joelma Ribeiro foi convidada para participar de evento sobre cinema independente. ‘No dente de cachorro’ será exibido também em evento no Rio de Janeiro
Reprodução
Produzido por uma mulher, o filme acreano “No dente de cachorro” vai ser exibido, no próximo dia 4, no Rio de Janeiro no evento Cinema Correria: construção coletiva de um conceito. O filme resgata o período de colonização do estado na época em que se montou o contexto socioeconômico e como as mulheres eram violentadas nesse período, principalmente na época dos Ciclos da Borracha.
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A exibição está marcada para às 16h [horário de Brasília] durante este intercâmbio cultural entre territórios do Brasil através do cinema das margens. O evento também é transmitido ao vivo e pessoas do Brasil todo podem participar como ouvintes e pessoas presentes no Rio de Janeiro na data podem enviar contribuição intelectual e ser selecionada como participante na obra coletiva.
Joelma Ribeiro, produtora do filme, morou no Rio de Janeiro, entre 2017 e 2019, onde estudou direito no audiovisual e produção audiovisual na Escola de Cinema Darcy Ribeiro e teve seu filho, Aruã. Desde 2019 retornou ao Acre. Hoje, ela faz parte da Subcomissão do Estudante de Direito da OAB-AC, onde atua presencialmente.
Está no final do curso de direito e recentemente começou estágio na área previdenciarista e também integrante do Núcleo Virtual de Pesquisa em Gênero e Maternidade, que tem parceria da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Sobre o filme
A produção artesanal e totalmente independente foi pensada pela realizadora audiovisual Joelma Ribeiro, de 27 anos. Artista, mulher e mãe, ela diz que o curta-metragem, de pouco mais de 3 minutos, mostra um relato que traz à tona a violência contra a mulher e o impacto dela na história e formação do estado.
A expressão que dá nome ao filme faz referência a uma época em que mulheres indígenas eram pegas nas matas para servirem como escravas sexuais dos seringueiros. Principalmente no chamado “tempo de correrias”, que eram emboscadas organizadas pelos seringalistas e seringueiros para tomar as terras dos povos indígenas, matar os índios e aprisionar algumas mulheres e crianças.
Joelma Ribeiro foi convidada para o evento no RJ
Arquivo pessoal
Investigação linguística
A produção do filme foi um trabalho de conclusão de uma oficina em que ela participou.
“Me veio muito forte essa coisa da investigação linguística que tá em forma de curta-metragem, na intenção de investigar essas diferentes linguagens e a performance com essa temática. São mulheres ‘pegas a laço’ ou ‘mulheres pegas a cachorro’, que é uma expressão utilizada comumente no Norte do Brasil, mas em toda América Latina para referir-se a esse movimento de colonização e sujeição das mulheres, principalmente na Amazônia, pela violência”, destacou em reportagem ao g1.
A ideia, segundo a artista, é trazer ao debate não só a investigação linguística dessas expressões que se tornaram comuns na região, mas também instigar o debate social;
“A protagonista conta essa história. É uma viajante que está isolada na Amazônia e conta a história da avó dela, que foi pega a dente de cachorro, o filme tenta, apesar de não ser documentário e não ter a preocupação de reconstituição histórica, porque é ficção apresentar elementos estéticos que remetem a esses ciclos econômicos”, pontuou.
Para ter esse cenário mais próximo da época retratada, o filme foi gravado no Parque Capitão Ciríaco, em Rio Branco, onde é possível encontrar elementos estéticos e elementos simbólicos que remetem à época.
“Tem a presença, inclusive, do boi e do cachorro, que são elementos simbólicos que representam a chegada dos grandes donos de terra, na década de 70, finalizando o segundo ciclo da borracha”.
Gravações foram feitas no Parque Urbano Capitão Ciríaco, em Rio Branco
Arquivo pessoal
Gravado em um dia pelo celular
Joelma conta que o filme foi gravado em um dia apenas, com 5 a 6 horas de filmagem, o que resultou em uma produção de 3 minutos e 26 segundos. Tudo foi gravado por ela, em um celular e também editado em aplicativos. Ela contou com a colaboração de atrizes e também de uma banda que ajudou na montagem da trilha sonora da produção.
Para ela, a divulgação desses trabalhos fortalecem o protagonismo feminino e abre o leque de possibilidades.
“Esse trabalho consegue remeter, não só pela temática, mas pelo conteúdo, a violência contra a mulher histórica, principalmente como base de formação de território como foi o Acre. Mas, não só isso, são mulheres contando histórias delas mesmas com seus próprios olhares e corpos. O debate alcança muito mais gente. Eu sou estudante e mãe solo, então, essa inserção no mercado de trabalho passa muito pelo protagonismo. E quando a indústria cinematográfica começa a observar essa demanda do setor feminino, que trabalha, produz cultura, inicia uma mudança, mesmo que pequena, de uma micropolítica”, acrescenta.
No final de outubro, o filme foi exibido no Festival Cine Educação, criado no Rio de Janeiro em 2018 com o objetivo de unir cultura e educação. A programação conta com debates e curtas nacionais e internacionais, todos ligados à educação. O festival aborda temas como democracia, antirracismo, diversidade, arte e mundo pós-pandemia. Toda a programação é on-line e gratuita, através do Youtube.
Para Joelma, essa inserção de produções no ambiente escolar é importante para disseminação de outras formas de ensino. “É importante porque abre novas perspectivas, são diferentes visões e alternativas exploradas nas escolas.”
Serviço:
Quando: 4 de agosto de 2023 – sexta-feira
Horário:16h às 22h;
Local: Lona de Bangu – Areninha Hermeto Pascoal. Endereço: Praça Primeiro de Maio, s/n – Bangu, Rio de Janeiro – RJ, 21830-006
Contato: [email protected]
Instagram: https://www.instagram.com/zonadecinema.art/ https://www.instagram.com/areninhahermetopascoal/
VÍDEOS: g1 em 1 minuto

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