Sindicato denuncia Bocalom e integrantes da prefeitura de Rio Branco ao MP por contrato com empresa de transporte público


Representante jurídico do Sindicato dos Bancários do Acre argumenta que a prefeitura manteve contrato emergencial com a Ricco mesmo após fim do período permitido por lei. Empresa foi contratada de forma emergencial em 2022 e se tornou a única a operar em Rio branco
Andryo Amaral/Rede Amazônica Acre
O Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários do Acre (Seeb-AC) ingressou com uma representação contra o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom, e outros cinco integrantes da administração municipal por conta do contrato com a empresa Ricco Transportes, a única que opera no transporte público da capital acreana.
A representação foi entregue à 2ª Promotoria Especializada de Defesa do Patrimônio Público e Fiscalização das Fundações e Entidades de Interesse Social, do Ministério Público do Acre (MP-AC). A titular da promotoria, Laura Cristina de Almeida Miranda, confirmou o recebimento da representação.
Leia mais
Nova empresa de transporte assume 31 linhas de ônibus de Rio Branco
Com crise no sistema, prefeitura decreta situação de emergência no transporte público de Rio Branco
Prefeitura de Rio Branco renova por mais seis meses contrato emergencial com empresa de ônibus
CPI do transporte público de Rio Branco se reúne nesta terça-feira (21) para votar requerimentos
Representante jurídico do sindicato, o advogado Rui Oscar argumenta que a prefeitura manteve o contrato emergencial com a Ricco além do período permitido por lei, que é de 180 dias. Ainda segundo o advogado, o presidente do sindicato, Eudo Raffael Silva, que assina a representação, decidiu entrar com a representação enquanto munícipe.
“O Eudo, como munícipe e como bancário, entende que o serviço hoje prestado pela empresa não atende o que a lei ordena. No mais, observa um monopólio, o que já não é interessante, onde uma empresa que recebe valores através de subsídio municipal , mas que não recolhe os impostos e encargos trabalhistas de forma correta além da situação irregular que está operando o sistema hoje”, afirma.
Na ação, Silva reforça a alegação de que no dia 9 de agosto de 2022, após se encerrar o prazo de 180 dias do contrato emergencial, a prefeitura prorrogou o vínculo sem realizar ato administrativo e sem publicar no Diário Oficial, “o que possivelmente incorre no artigo 337-H do Código Penal, com redação dada pela Lei 14.133 de 10 de junho de 2021”.
“Veja-se Excelência que a empresa RICCO TRANSPORTES E TURISMO EIRELI permaneceu, ao que tudo se demonstra, executando serviço público, sendo remunerada por subsídio municipal (Lei Complementar municipal n° 164 de 1 de julho de 2022 – Doc. 05) , sem contrato desde o dia 09/08/2022”, diz um trecho da representação.
Outra questão alegada pelo sindicato é que a empresa também não poderia ser contratada pois não estava em regularidade fiscal e trabalhista. Em julho deste ano, a Ricco voltou a ser denunciada por atraso de salário, pagamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e outras irregularidades com os funcionários.
O diretor do Sindicato dos Transportes do Acre (Sinttpac), Mauricelio Freire, informou que o sindicato tem cobrado uma resposta da empresa e que foi prometido que o salário de junho seria pago e que a situação do FGTS seria regularizada em um prazo de 15 dias. À época, a empresa não quis se manifestar.
Contratação emergencial
Em fevereiro de 20222, a Ricco Transportes assumiu, de maneira emergencial, 31 linhas de ônibus em Rio Branco que foram abandonadas pela empresa Auto Aviação Floresta. O contrato foi assinado no dia oito daquele mês, e previa que a Ricco atenderia a demanda por seis meses até que a Prefeitura de Rio Branco realizasse uma nova licitação e fizesse novo chamamento para que outras empresas apresentem suas propostas.
De acordo com a representação do sindicato, a prefeitura contratou, sem licitação, a empresa EGL Engenharia para fazer um estudo sobre o sistema de transporte público de Rio Branco e montar o edital da licitação. A empresa entregou todo o material, mas a licitação não foi aberta.
Em dezembro de 2021, o prefeito Tião Bocalom decretou situação de emergência e anunciou a contratação de outras empresas para prestar o serviço em Rio Branco. Conforme a Superintendência de Municipal de Transportes e Trânsito (RBTrans), pelo menos oito linhas da Auto Viação Floresta deixaram de operar.
O motivo da retirada dos carros, segundo o Sindicato dos Transportes do Acre (Sinttpac), seria por falta de diesel e as linhas não estão sendo suficientes para pagar o combustível.
Ficaram sem operar as seguintes linhas:
Amapá;
Seis de Agosto/Judia;
Belo Jardim I e II;
Irineu Serra;
Bahia/Carandá;
Cabreúva/Aeroporto Velho;
Floresta;
Wanderley Dantas.
Mudança de posicionamento
Outro ponto questionado pela ação do Seeb-AC é a mudança do posicionamento de Bocalom, que, durante a campanha para as Eleições 2020, criticou a então prefeita Socorro Neri por conceder aporte financeiro às empresas de transporte público e, após eleito, afirmou que não faria pagamentos às companhias.
Porém, em julho de 2022, foi aprovada a lei que concede subsídio com valor mínimo de R$ 1,45 por passageiro transportado, de autoria da prefeitura. O sindicato questiona que, se havia recursos disponíveis, por que o município não optou pelo subsídio quando as empresas que operam antes entraram em crise.
“Se a Prefeitura tinha intenções de subsidiar o transporte público, porque não o fez desde antes, no período da pandemia, evitando assim a quebra das 03 outras operadoras? Porque criar um caos no transporte, uma situação de emergência, para só depois apresentar uma solução, que no caso foi única e exclusivamente financeira?”, indaga a ação.
O sindicato aponta que os envolvidos no caso cometeram contratação direta ilegal (artigo 337-E do Código Penal) e modificação ou pagamento irregular em contrato administrativo (artigo 337-H do Código Penal). Na ação, o Seeb-AC alega ainda que as ações também podem ter infringido os artigos 337-F, 337-G e 337-H do Código Penal.
A representação atribui irregularidades aos seguintes agentes:
Tião Bocalom – prefeito de Rio Branco, que, segundo a ação, deu as ordens para que não fosse feita licitação e que a Ricco fosse mantida na execução do contrato.
Francisco José Benício Dias – superintendente municipal de transportes e trânsito, que teria sido responsável pela contratação da EGL Engenharia, no valor de R$ 490 mil.
Erick Silva de Oliveira – presidente da Comissão de Licitação, responsável por formalmente dar andamento rápido ao processo administrativo de licitação, que acabou não acontecendo.
Everson e Bruna Dias – pai e filha, proprietários da Ricco Transportes.
Ao g1, a prefeitura de Rio Branco informou, por meio de nota, em nome de Bocalom, Benicio Dias e Erick Oliveira, que encerrou o contrato com as empresas que atuavam na capital acreana anteriormente por conta das más condições dos veículos, e que a renovação foi feita com a devida justificativa (Confira a íntegra da nota após o texto).
A Ricco Transportes informou que não foi notificada e que não vai se manifestar sobre o caso.
Nota da Prefeitura de Rio Branco
Com o objetivo de resolver o problema do transporte público em Rio Branco, a prefeitura encerrou o contrato com as empresas que atuavam no município de forma totalmente incorreta com ônibus dos quais caiam portas pelas ruas, passageiros tinham que empurrar em ladeira e tantos outros problemas, e fez um contrato de emergência para que a população não ficasse desassistida.
Ao vencer os períodos de contrato, esses foram renovados, com devida justificativa, com a aprovação da Procuradoria Geral do Município e com registro no Sistema de Licitações e Contratos do TCE/AC.
A licitação do Sistema de Transporte Público de Rio Branco acontece com toda transparência e de forma totalmente correta.
VÍDEOS: g1

Bookmark the permalink.