Venezuelana denuncia que teve filha levada de abrigo e PF apura caso no interior do Acre


Eduarly Olivex Ortíz Mundarain, de 15 anos, chegou ao Brasil com a família no dia 5 de setembro a abrigo em Brasiléia, e desapareceu na madrugada de 5 de outubro. Yusneily Mudarain diz que filha foi levada por uma outra família de imigrantes que estava hospedada no local. Eduarly Olivex Ortíz Mundarain, de 15 anos, desapareceu da Casa de Acolhida de Brasiléia na noite de 4 de outubro
Arquivo pessoal
Na madrugada do último dia 5 de outubro, por volta de 3h30 da manhã, a venezuelana Yusneily Mudarain levantou de sua cama na Casa de Acolhida de Brasiléia, no interior do Acre, mantida pela Diocese de Rio Branco. Ao acordar, percebeu que a filha Eduarly, de 15 anos, não estava no quarto. Ela levantou e procurou pela menina, mas não a avistou. Nesse momento, começou um pesadelo.
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Em entrevista ao g1, traduzida do espanhol, Yusneily explica que chegou ao Brasil junto a seus quatro filhos e o marido Wilman pela fronteira com o Peru no dia 5 de setembro. A família morava no Equador desde o ano passado, e veio ao território acreano para entrar com pedido de refúgio, com o objetivo de chegar ao estado de Minas Gerais. Enquanto aguardam a emissão dos documentos, foram levados ao abrigo no interior do estado.
Um dia depois, na tarde de 6 de setembro, uma outra família de imigrantes, composta por cinco adultos, uma adolescente grávida e uma criança, chegou ao abrigo. Yusneily lembra que o grupo era reservado, e não conversava com outros moradores. Porém, ela relata, a família falava frequentemente com Eduarly. A mãe da jovem achou estranho, mas não viu problema, pois imaginava que a filha estivesse fazendo novas amizades. Porém, na noite do desaparecimento de Eduarly, ela acordou o marido para que a ajudasse a procurar a menina, e eles notaram que a família também não estava mais no abrigo.
“Eu fiquei vários dias mal, com muita dor e em noites anteriores, me levaram ao hospital para eu fazer tratamento contra essas dores. Nos dias seguintes, continuei assim. Na noite do dia 4 me aplicaram uma benzetacil e eu fui para a cama ver se dormia, porque doía muito. Eu dormi e quando acordei às 3h30 mais ou menos, ela já não estava. Saí da casa, acordei o segurança e disse que minha filha já não estava lá. A grade estava aberta pois não tem segurança alguma. Essas portas ficam abertas. Saí para ir atrás dela nos arredores e não a encontrei. Fui acordar meu marido e comentei que não conseguia achar a menina. Nós fomos até o quarto dessa família e o resultado foi de que nem a família e nem as coisas deles estavam lá”, relembra.
Nesse momento, a Polícia Militar foi acionada, mas, segundo Yusneily, responderam que não poderiam fazer nada, e que ela deveria aguardar 48 horas para fazer a denúncia. Na manhã seguinte, a família foi à delegacia do município, e teria ouvido uma resposta parecida da Polícia Civil.
“Logo no dia 5, fui com uma senhora na Polícia Civil para fazer a denúncia e me disseram que eles não poderiam fazer nada, porque aqui no Brasil, há uma lei que diz que logo após adolescentes completarem 15 anos, podem viver com quem eles quiserem”, conta.
O secretário de assistência social do município, Djailson Américo, afirmou ao g1 que foi informado pela coordenação do abrigo de que a jovem estava em um relacionamento e foi embora junto com o namorado e a família dele.
“A mãe da jovem já foi para Rio Branco, só fez o registro. A jovem foi com a família do namorado. Saíram na madrugada”, resumiu.
Sobre as críticas feitas por Yusneily, a assessoria de imprensa da Polícia Civil ressaltou à reportagem que casos envolvendo imigrantes costumam ser responsabilidade da Polícia Federal, mas que independente da nacionalidade, é garantido o direito de registrar boletim de ocorrência, e que cabe ao delegado expedir a ordem de investigação.
Já a assessoria da Polícia Militar negou que a corporação tenha recusado auxílio à mãe da jovem, e informou que policiais foram até o local e conversaram com ela. Como a mulher não conseguiu fornecer mais informações que pudessem auxiliar nas buscas, foi orientada pelos PMs a procurar a delegacia.
“Os militares do 5° Batalhão de Polícia Militar, em Brasiléia, receberam o chamado do Copom e se deslocaram para o atendimento da referida ocorrência. Chegando ao local, conforme consta em relatório do Centro de Atendimento, a mãe da menor de idade disse que a filha havia fugido com duas pessoas e não conseguiu repassar mais nenhuma informação que pudesse auxiliar em buscas. Os policiais então orientaram a senhora estrangeira a procurar a delegacia para registrar o desaparecimento”, disse a corporação.
Busca
Na busca pela filha, Yusneily e a família foram para um abrigo em Rio Branco. Na capital acreana, ela conta que informou a situação a agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF-AC), que a levaram à sede da Polícia Federal (PF-AC), onde ela relatou o caso. Ao g1, a PF confirmou que está apurando o desaparecimento de Eduarly, e que ainda não há mais informações sobre o caso.
No relato que passou à PF, ao ser perguntada se a filha apresentou mudanças de comportamento nos dias anteriores ao desaparecimento, Yusneily disse que notou a filha mais calada e distante.
Com a preocupação de não ter contato com a filha e não saber se ela está bem, Yusneily tem recorrido às orações para pedir o retorno de Eduarly. Ela diz ainda que tem fé que a PF conseguirá encontrar a menina. Segundo ela, os agentes iniciaram as buscas na última sexta-feira (6).
“Esse é um desespero muito grande que não desejo a ninguém, e estou pedindo muito a Deus que ela esteja bem e que mande sinais logo, que não lhe aconteça nada e que volte rápido, sã e salva”, finaliza.
Mãe da adolescente mantém orações enquanto espera pelo retorno da filha
Arquivo pessoal
VÍDEOS: g1

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