Poliomielite: AC tem cidade com apenas 17% de menores de 1 ano imunizados contra a doença; capital tem 54%


Doença não tem casos registrados desde 1989, mas queda na cobertura pode apresentar risco de reintrodução do vírus causador. Por conta de caso no Peru, campanha de vacinação foi antecipada este ano no estado e aconteceu em maio. Vacinação contra a doença é destinada a crianças a partir de 2 meses até menores de 5 anos
Andryo Amaral/Rede Amazônica Acre
A poliomielite não tem casos registrados no Brasil desde 1989. Porém, a imunização, principal ferramenta no combate à doença, vem registrando seguidas quedas desde 2019 no país. No Acre, a cidade de Rodrigues Alves registrou o menor índice de cobertura vacinal contra a pólio em crianças menores de um ano no primeiro semestre de 2023. De acordo com dados do Boletim Informativo de coberturas vacinais publicado pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) em agosto, o município teve apenas 17,2% do publico alvo alcançado.
Já a capital, Rio Branco, registrou 54,3% de cobertura nessa faixa etária. O maior índice foi alcançado no município de Xapuri, que teve 64%. Além de Xapuri, apenas um outro município superou os 60% de cobertura: Jordão, que teve 61,8%. Nessa faixa etária, a média do estado foi de 49%.
Entre crianças de um a quatro anos de idade, a situação é ainda mais preocupante. A cidade de Jordão alcançou 76,5% do público alvo, mas foi o único município nesta marca. A maioria dos locais ficou abaixo de 60%, e o menor índice também foi registrado em Rodrigues Alves, novamente com 17,2%. Rio Branco chegou a 47,6%. A média estadual chegou a 42%.
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O Programa Nacional de Imunizações (PNI) recomenda a vacinação de crianças contra a pólio a partir de 2 meses até menores de 5 anos. As três doses do esquema básico devem ser dadas aos dois meses, aos quatro meses e aos seis. Também são indicadas duas doses de reforço como gotinhas: uma aos 15 meses e outra aos quatro anos de idade.
Caso no Peru e antecipação da campanha
O caso de poliomelite em um bebê indígena em Loreto, no Peru, foi registrado a 500 km de distância da fronteira do país com o Amazonas e Acre, em março deste ano. Por conta do caso, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre) decidiu antecipar a campanha de vacinação contra a doença no estado.
A recomendação de antecipação de vacinação é do Ministério da Saúde. Desde 2019, a vacinação vem caindo. Nenhum estado brasileiro atingiu o índice superior a 95% de imunizados.
Geralmente, a campanha ocorre no mês de outubro, mas foi antecipada para maio de 2023. Sesacre lançou ação de vacinação em frente ao Palácio Rio Branco, com objetivo de vacinar 500 pessoas. Além da poliomielite, também foram oferecidas todas as vacinas do calendário.
“A campanha de multivacinação acontece todos os anos, geralmente em outubro, objetivando atualizar a situação vacinal de crianças e adolescentes. Excepcionalmente em 2023, por conta do caso de poliomielite confirmado no país vizinho, o Ministério da Saúde antecipa a campanha apenas para os estados do Acre e Amazonas. Nosso estado está classificado em alto risco para reintrodução de doenças controladas, eliminadas. E portanto, não devemos deixar a reintrodução dessas doenças pelo nosso estado. São doenças com alto grau de incapacitação e letalidade para crianças e adolescentes”, alertou Renata à época.
Alerta
A poliomielite é uma doença altamente contagiosa causada pelo poliovírus selvagem, que destrói partes do sistema nervoso, causando paralisia permanente. A doença também ataca as partes do cérebro que ajudam a respirar e podendo levar até à morte.
Por causa da doença, a vida da servidora pública Ana Cunha, uma das vítimas da paralisia infantil, foi marcada por uma série de limitações. Em 2022, ela contou à Rede Amazônica Acre que, por não ter sido vacinada, ela recebeu o diagnóstico com aproximadamente 3 anos de idade.
“Eu já andava, já corria, já brincava, só que meus pais eram seringueiros. Nós morávamos distante de Xapuri quase um dia e meio de barco e não fui vacinada, então quando o vírus chegou, eu estava totalmente indefesa e um dia de febre me fez perder totalmente as forças. No primeiro momento, fiquei com o lado direito inteiro sem mobilidade. Com o tempo, comecei a parar de sentir as dores, mas eu nunca mais andei. Até quase 10 anos de idade eu me arrastava”, relembra.
A baixa cobertura preocupa não só a Saúde estadual, mas também a Ana que sobreviveu a doença, mas que tem sequelas até hoje.
“Os meus pais não tiveram culpa, porque não tiveram acesso a essas vacinas, mas os pais de hoje sim, são culpados se esse vírus voltar a fazer vítimas na nossa sociedade, porque as vacinas estão em qualquer posto, próximo de cada casa, tem campanha, isso não justifica essa negligência desses pais, que já foram vacinados. É por isso que talvez hoje não entendam, é porque nunca viram o que é uma criança chorar dia e noite com dor sem saber, porque não tem remédio”, desabafa.
Ana Cunha alerta aos pais sobre as sequelas da doença
Reprodução/Rede Amazônica Acre
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