Ex-sargento da PM é pronunciado a júri popular por morte de adolescente de 13 anos durante assalto no Acre


Erisson Nery e o PM Ítalo Cordeido foram pronunciados a júri popular pela morte do adolescente Fernando de Jesus, em 2017. Advogado dos acusados entrou com recurso. Caso tramita na 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco. Erisson Nery foi pronunciado a júri popular por morte de adolescente de 13 anos em 2017
Arquivo pessoal
A 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco pronunciou o ex-sargento da Polícia Militar Erisson Nery a júri popular pela morte do Fernando de Jesus, de 13 anos, em 2017, quando a vítima tentou furtar a casa do sargento. Além dele, a juíza Luana Campo também pronunciou o policial militar Ítalo de Souza Cordeiro pelo crime de fraude processual.
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Nery e Ítalo Cordeiro foram denunciados em julho de 2021 pelo Ministério Público do Acre (MP-AC) pelos crimes de homicídio qualificado e fraude processual e a denúncia foi aceita um dia depois pela Justiça.
O advogado dos acusados, Wellington Silva, disse que já entrou com recurso contra a decisão.
Conforme a denúncia, na manhã do dia 24 de novembro de 2017, Nery matou o adolescente com pelo menos seis tiros, no intuito de “fazer justiça pelas próprias mãos”. O caso ocorreu no conjunto Canaã, bairro Areal.
O adolescente teria ido com outros dois homens furtar a casa do então cabo da PM. E, ao perceberem a chegada de uma viatura da polícia, os dois maiores de idade conseguiram pular o muro e fugir, enquanto que Fernando de Jesus foi deixado para trás pelos comparsas e acabou morto pelo policial.
Após o homicídio, ainda segundo a denúncia, Nery e o colega Ítalo Cordeiro alteraram a cena do crime, lavando tanto o corpo da vítima quanto os arredores do local onde estava caído, para poder alegar que agiu em legítima defesa.
Os militares teriam ainda colocado a pistola na mão direita do adolescente e fotografado. E, antes da chegada da perícia, decidiram mover a arma a uma distância de cerca de 13 centímetros da mão do menino. O ex-sargento foi ouvido em audiência de instrução em agosto do ano passado na 1ª Vara do Tribunal do Júri.
Pronúncia
A audiência de instrução serviu para a coleta de prova oral e para ouvir o ex-sargento, Ítalo Cordeiro, e três testemunhas, entre elas a mãe da vítima e o perito.
No depoimento, a mãe de Fernando de Jesus afirmou que o filho era usuário de drogas e andava com alguns jovens do bairro. Contudo, não era violento, era pequeno fisicamente e não andava armado.
A mulher também reforçou a mudança na cena do crime e que soube da morte do filho por grupos de mensagem.
“Em análise dos autos, em especial dos depoimentos coletados, há possibilidade do crime ter ocorrido sob o manto da legítima defesa, entretanto o laudo descreve seis ferimentos de projéteis, fato esse que pode descaracterizar a excludente suscitada, pelo menos neste momento processual, demonstrando certo excesso na conduta do réu, competindo ao conselho de sentença analisar se houve ou não a legítima defesa”, destacou a juíza.
Ainda segundo a magistrada, após análise dos autos, ‘verifica-se que os indícios de autoria são robustos e apontam o acusado Érisson como o autor do crime de homicídio, inclusive este confessa parcialmente, narrando que assim o fez em legítima defesa. No tocante a legítima defesa, os Tribunais entendem que está só deve ser considerada nesta fase se cristalina e corroborada amplamente pelo arcabouço probatório, sob pena de violação da soberania do Tribunal do Júri’.
Em setembro de 2022, Nery foi pronunciado a júri popular pelo Juízo da Vara Criminal da Comarca de Epitaciolândia por atirar no estudante Flávio Endres Ferreira.
Em agosto deste ano, a Justiça do Acre revogou a prisão preventiva do ex-militar e concedeu a liberdade. Nery começou a usar tornozeleira eletrônica, não pode se aproximar das vítimas e testemunhas, entre o cumprimento de outras medidas cautelares.
Trisal volta a mostrar rotina na internet após ex-sargento sair da prisão no Acre
Reprodução/Instagram
Trisal na rede social
O trisal formado pelo ex-sargento, a policial Alda Nery e a administradora Darlene Oliveira voltou às redes sociais, após mais de um ano de ausência, que coincidiu com o período em que Erisson Nery ficou preso.
O ex-militar foi preso em novembro de 2021 por atirar no estudante Flávio Endres Ferreira durante uma briga em um bar de Epitaciolândia, no interior do Acre. Neste caso, ele responde por tentativa de homicídio qualificado por motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e lesão corporal grave. Ele ainda responde criminalmente pela morte de um adolescente de 13 anos em 2017. Os dois processos contra Nery ainda não foram julgados.
Após deixar prisão, ex-sargento do trisal voltou a fazer vídeos motivacionais na web
O perfil do trio no Instagram, “Três Amores”, que tem mais de 90 mil seguidores, estava desativado desde dezembro de 2021, um mês após o ex-militar ser preso por atirar no jovem no interior do Acre. Desde então, as duas mulheres compartilhavam suas vidas individualmente em seus perfis pessoais.
No entanto, desde junho deste ano, eles retomaram as postagens, com vídeos e fotos antigos, com mensagens nostálgicas, reflexões sobre o amor a três e postagens motivacionais.
Com a saída de Nery da prisão, após ter a prisão preventiva revogada no dia 24 de agosto, com uso de tornozeleira eletrônica, a página voltou a ser usada para compartilhar a rotina e jornada juntos. Vídeos motivacionais, momentos do cotidiano e até parcerias diretas com seguidores são postados pelo trisal.
Novo pedido negado pela Justiça
Expulso dos quadros da Polícia Militar do Acre desde fevereiro deste ano, o ex-sargento teve um pedido liminar para ser reintegrado ao quadro da corporação negado pela 2º Vara do Tribunal do Júri e Auditoria Militar de Rio Branco. A informação foi confirmada pelo advogado Matheus Moura, que atua no processo.
A PM entendeu que o militar feriu a conduta ao atirar no estudante Flávio Endres durante uma briga em 2021 em uma casa noturna no interior do Acre. Além desse crime, Nery responde criminalmente pela morte de um adolescente de 13 anos em 2017. Os dois processos contra Nery ainda não foram julgados.
Conforme o advogado, a ação na Auditoria Militar pede a reforma de Nery, ou seja, a aposentadoria dele da PM-AC, alegando problemas psicológicos. No pedido, a defesa entrou com uma liminar para que, até a decisão final da ação, ele pudesse voltar ao quadro da corporação para seguir recebendo salário.
“Nós ingressamos com uma ação civil para reforma dele, haja vista a enfermidade que ele tem e o que foi indeferido foi a liminar, que seria no sentido de enquanto durasse esse processo, ele fosse reintegrado para receber salário. Agora, o processo segue normalmente e só ao final vai ser julgado de forma definitiva”, informou o advogado.
Alda Nery, Erisson Melo e Darlene Oliveira, firam conhecidos por assumir trisal em 2021
Daniel Cruz/Arquivo pessoal
Conhecido por trisal
A história de Nery teve grande repercussão em junho de 2021, quando ele assumiu viver um trisal ao lado da também policial militar Alda Nery e da administradora Darlene Oliveira.
“Como a gente gosta dela e ela gosta da gente, íamos sair e dizer que ela é o que nossa? Minha amiga, minha prima? E as pessoas viriam dar em cima dela, e a gente ia ficar com a cara mexendo? Então, se gostamos o suficiente para estar com ela, tem que gostar para assumir para a sociedade, porque ela nunca foi só sexo”, explicou Alda na época.
Cinco meses depois, o trisal estava no bar quando iniciou a briga, e o sargento acabou atirando no estudante. Na época, Nery chegou a falar que agrediu e atirou em Flávio Endres, porque ele tinha assediado Alda.
“O cara molestou minha esposa e ela foi tomar satisfação imediatamente. Mas, ele deu um murro na cara da Alda que ela caiu apagada e com a boca cortada. Aí, quando eu vi ela daquele jeito, fui atrás do cara. Lá fora entramos em luta corporal e eu atirei nele. Foram dois disparos, todos pegaram nele. Ele está estável e foi transferido para Rio Branco”, alegou na época.
Caso do estudante
O estudante levou ao menos quatro tiros e ficou com sequelas em uma das mãos. Após passar por uma cirurgia na região do abdômen e ficar nove dias internado no pronto-socorro de Rio Branco, o estudante recebeu alta no dia 7 de dezembro de 2021.
Em julho do ano passado, a Vara Única Criminal da Comarca de Epitaciolândia fez uma audiência de instrução e julgamento do PM após recebimento da denúncia.
A defesa de Nery entrou com pedido de análise de insanidade mental, mas o pedido foi negado em primeira e segunda instância.
Ainda segundo a Justiça, a defesa alega que o sargento agiu em legítima defesa e pede a desclassificação do homicídio qualificado para simples, sem as qualificadoras, e a retirada da acusação de porte ilegal de arma de fogo e lesão grave. O processo corre em segredo de Justiça. Em setembro de 2021, ele foi pronunciado a júri popular.
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