Atendente de loja morre com ‘doença do pombo’ um dia após diagnóstico em Rio Branco: ‘sem chão’


Sandra Silveira morreu na quarta-feira (15) no Pronto-Socorro de Rio Branco. A certidão de óbito apontou meningite fúngica, criptococose, endema cerebral e pneumonia como causas da morte. Sandra Silveira nessa quarta-feira (15) no Pronto-Socorro de Rio Branco
Arquivo pessoal
A atendente de loja Sandra Silveira Bezerra, de 49 anos, morreu na última quarta-feira (15) no Pronto-Socorro de Rio Branco com ‘doença do pombo’. Na certidão de óbito consta que Sandra faleceu de meningite fúngica, criptococose, conhecida como “Doença do Pombo”, endema cerebral e pneumonia.
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Sandra trabalhava há mais de 12 anos em uma loja de variedades que fica na Rua Cel. Alexandrino, bairro Bosque, na capital acreana, onde há constantemente a presença de pombos. O dono da loja, inclusive, confirmou que foi diagnosticado com a doença há dois anos (saiba mais abaixo).
O g1 conversou com a filha mais velha de Sandra, Fábia Silveira Rodrigues, de 31 anos. Ainda muito abalada, Fábia contou que a mãe começou a passar mal no final do mês de setembro com tontura. Em outubro, passou a sentir muita fraqueza, tosse e dificuldades para respirar.
Exame detectou a presença do fungo Cryptococcus no organismo de Sandra Silveira
Reprodução
Sandra foi levada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), fez um raio-X e foi detectada uma mancha em seu pulmão. Foi então que a filha mais velha levou Sandra em um pneumologista para exames mais específicos.
“O especialista pediu uma tomografia e mostrou que havia muita mancha, que não sabia o que era, mas foi tratado como pneumonia. Associado a isso, ela passou a ter muita dor de cabeça, vomitava muito e no dia 5 de novembro a levamos na UPA do 2º Distrito novamente onde ficou internada. Ela sentia muita dor de cabeça, dores no peito e continuou tomando medicação na UPA”, relembrou.
Sandra ficou na UPA do 2º Distrito até dia 8 de novembro, quando foi transferida para o pronto-socorro. Na unidade de saúde, segundo Fábia, fizeram um exame para meningite e a atendente começou a tomar antibióticos.
“Só pensaram na meningite bacteriana e a viral, não pensaram na fúngica. Foi tomando o antibiótico, mas não havia melhora. Foi para as dosagens mais altas dos antibióticos, a dor de cabeça só piorava, a infecção muito forte também. Houve uma demora muito grande para se descobrir. Fui atrás várias vezes. Ela também teve alterações na visão. O médico explicou que por conta do edema cerebral ocorria essa alteração na visão, mas que quando desinchasse voltaria ao normal”, disse.
Sandra Silveira com as filhas, Fábia Rodrigues, de 31 anos, e Rebeca Silveira Lopes, de 20
Arquivo pessoal
Diagnóstico
O diagnóstico certo foi descoberto apenas na última terça-feira (14), quando Fábia pegou o resultado do exame feito em Sandra no laboratório e apresentou para o médico plantonista. A jovem conta que sempre desconfiou que a mãe tinha doença do pombo devido à presença das aves próximo ao local do trabalho dela.
“Um médico chegou para fazer visita e falei que tinha a suspeita da doença do pombo. Ele me deu uma autorização para eu ir no laboratório buscar o exame. Peguei e levei pra ele. Quando viu, falou que realmente era a doença do pombo. Disse que foram encontradas criptococoses e entraria com a medicação antifúngica”, explicou.
Sandra estava internada na observação do PS quando descobriram a doença. Para tomar a medicação, ela precisava ser transferida para uma enfermaria do andar de cima. Essa transferência foi feita no início da noite de terça, mas a atendente passou muito mal e precisou ser intubada.
“O cérebro dela estava muito inchado, por isso sentia muita dor de cabeça. Se os exames tivessem saído mais rápido, fui no laboratório pegar o resultado. Onde ela trabalhava tinha muito pombo, às vezes, ficava lá pela frente aguardando entrar. Ela passava a maior parte do tempo lá. Ainda estou sem chão, agora que consigo falar”, lamentou.
Veja o ciclo da criptococose
Arte/TV Globo
Chefe tem doença
O dono da loja onde Sandra trabalhou, Ney Matos, foi diagnosticado com a ‘doença do pombo’ há dois anos, em São Paulo. Na época, ele chegou a ser transferido em UTI aérea para a capital paulista.
Após uma investigação de uma equipe médica e uma biópsia, o empresário descobriu que tinha a doença.
“Tomo uma medicação caríssima, é importada, uso oxigênio e faço tratamento. Não posso gripar, pegar pneumonia, Covid, porque o problema é no pulmão. Nessa rua já morreu gente, outras ficaram cegas e tenho certeza que há muita gente contaminada”, acrescentou.
O empresário disse que Sandra era uma excelente funcionária e lamentou a perda. “Pessoal aqui é todo contra esses pombos, tenho esse ponto aqui há 35 anos. Sandra era uma pessoa que todos queriam ter por perto, atendia todos com atenção e carinho”, resumiu.
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