Fim de semana marca temperaturas de até 38ºC e ‘verão amazônico’ prolongado inspira memes no AC


Para novembro são esperados cerca de 200 milímetros de chuvas, mas nos 13 primeiros dias choveu menos de 30 mm na capital. Rio Acre baixou 14 centímetros em 24 horas. O famoso “um sol para cada um” já ficou para trás. Nem essa expressão consegue mais explicar a sensação que os acreanos enfrentam durante a onda de calor que segue elevando temperaturas na região em 2023, e causando um “verão amazônico” prolongado.
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Mas como nada é impossível de traduzir em memes, a internet, como sempre, não perdoa o calorão. O sol continua sendo o principal alvo, e dessa vez, em um vídeo publicado por uma página humorística acreana, um morador decidiu ir para o enfrentamento durante um pôr do sol.
“Até amanhã, covarde! Tu é doido!?”, exclama o morador.
Página Acre Wins publicou vídeo em que homem ‘enfrenta’ o sol
Quem não tem tempo para enfrentar o astro-rei, tenta amenizar como pode. Uma imagem publicada pela página mostra uma mulher caminhando com uma tampa de caixa d’água cobrindo a cabeça. “Sol querendo testar meus limites”, diz a legenda. Nos comentários, seguidores ajudam no exagero: “Cuidado para essa tampa não derreter”, brinca.
Até tampa de caixa d’água virou recurso para escapar do sol
Reprodução
Conforme o monitoramento da estação meteorológica Universidade Federal do Acre – Instituto Nacional de Meteorologia (Ufac-INMET), o último fim de semana registrou picos de 38ºC entre a sexta-feira (17) e este domingo (19). Os horários em que essas altas temperaturas foram marcadas variam entre 14h e 15h. No mês de novembro, até esta segunda-feira (20), o dia 7 também chegou a 38ºC às 14h, se juntando à lista de dias com as temperaturas mais altas.
O meteorologista e professor da Ufac, Alejandro Fonseca, ressalta que o “verão amazônico” costuma se estender entre agosto e outubro, o que torna a onda de calor do mês de novembro atípica.
“Neste ano, a seca extrapolou os meses do verão amazônico. Assim, está seco e quente, porque não chove e as chuvas do inverno amazônico deveriam ter começado desde outubro”, explica.
Estações do ano no Acre segundo a Internet
Reprodução
Sem a mesma base científica do especialista, mas fazendo uma afirmação semelhante, os memes também tratam das estações do ano no Acre, que outra página humorística classifica como: verão, queimavera, inferno, e ouforno.
Em outra postagem, o sol é novamente o protagonista. “Em novembro, o calor passa, as chuvas começam”, ironiza a página com uma montagem do Calçadão da Gameleira em chamas.
Expectativa era de que chuvas começassem no mês de novembro
Reprodução
Verão prolongado
Fazendo jus ao nome: no bairro Morada do Sol, em Rio Branco, veículos são adaptados para suportar o calor intenso
Edilson Chaves/Arquivo pessoal
A ausência de chuvas nos últimos meses tem resultado em temperaturas elevadas no Acre e em várias região da Amazônia. Acontece que desde a segunda quinzena de outubro, já era esperada uma melhora nesse cenário, com a chegada do chamado ‘inverno amazônico’. Mas, como explica o meteorologista Alejandro Fonseca, esse período está atrasado e não há previsão de melhora.
O cenário atípico também reflete no Rio Acre, que vive uma seca extrema há meses. Somente nas últimas 24 horas, o nível manancial reduziu 14 centímetros, saindo de 1,91 metro para 1,77 metro nesta segunda-feira (13), segundo dados da Defesa Civil do Município.
O calor intenso também se deve ao aquecimento das águas do Oceano Pacífico, com o fenômeno conhecido como El Niño, que gera ondas de calor extremo e diminuição da umidade relativa do ar. Assim, a incidência de chuva se torna menor na região Sudeste e se concentra no Sul do Brasil.
“Nós estamos em um período de seca que se estendeu praticamente desde maio até este momento. Em outubro, choveu muito abaixo da média e este mês de novembro ainda não está chovendo bem. Então, as temperaturas altas se devem também à falta de chuva nessas regiões. Aqui, as temperaturas são normalmente altas nos meses de agosto, setembro, até outubro, como característica do clima, mas está se estendendo um pouco mais, precisamente, porque temos falta de chuvas. Estamos tendo essa irregularidade no comportamento da chuva, uma vez que já deveria estar estabelecido o inverno amazônico desde outubro e isso não está acontecendo. Está atrasado”, afirmou o pesquisador.
Essas situações, segundo o meteorologista, já podem ser associadas a manifestações de mudanças climáticas.
“Essas mudanças, que não correspondem a características climáticas do período, tudo isso, a ciência geral está atribuindo a mudanças climáticas. Já não são eventos extremos que podiam acontecer em determinado lugar e causavam estranheza, está acontecendo com muita frequência e em muitos lugares do mundo simultaneamente.”
Conforme os dados, para o mês de outubro são esperados cerca de 150 milímetros de chuvas e o acumulado ficou em cerca de 80 mm no estado. Para novembro, a média esperada é de 200 mm, mas nos 13 primeiros dias choveu menos de 30 mm na capital.
“O nível do rio é derivado das chuvas na bacia, e como não chove, esse nível está bem baixo. Tudo isso está entrelaçado e o que preocupa é que não se vê, em nível mundial e local na Amazônia, medidas para mitigar ou se adaptar a essas mudanças. A ciência já vinha falando há muito tempo sobre isso e estamos observando já nitidamente essas consequências. Não temos previsões de chuvas mais expressivas para os próximos dias, estamos observando essa irregularidade”, disse Fonseca.
Média de perda foi de 178 aves por dia na semana passada por altas temperaturas
Arquivo pessoal
As altas temperaturas ocasionaram a morte de centenas de frangos de uma criação no Complexo Agroindustrial de Brasiléia, no interior do Acre, onde funciona o frigorífico Acre Aves Alimentos. Na segunda-feira (6), o produtor Rosildo Freitas foi ao local e constatou que 350 frangos da criação que mantém junto ao cunhado estavam mortos.
Na terça-feira (7), mais 100 animais foram encontrados mortos. As mortes continuaram ao longo de toda a semana, com mais 80 frangos mortos na quarta (8), 150 na quinta (9), e mais 300 nessa sext (10). Freitas e o cunhado afirmaram que o forte calor na região foi a causa da morte, já que as instalações não contam com exaustores.
Situação de emergência
Após o pedido de ajuda ao governo federal, o secretário nacional de proteção e Defesa Civil, Wolnei Barreiros , reconheceu a situação de emergência nos 22 municípios do Acre devido à seca extrema. A portaria nº 3.173 foi publicada no Diário Oficial da União (DOU). Em um vídeo compartilhado em suas redes sociais, o governador Gladson Cameli expressou a necessidade de ampliar os serviços de assistência destinados às famílias impactadas por esse cenário.
O documento, assinado pelo governo do estado, Gladson Cameli, alega que o volume de chuvas no primeiro semestre do ano foi inferior à média.
O decreto, que tem 90 dias de vigência, não fala em dados ou números relacionados às medidas, mas ressalta ainda que há risco de aldeias indígenas ficarem isoladas devido à falta de navegabilidade dos rios, ocasionando diversos problemas de abastecimento de alimentos e outros insumos a essas comunidades.
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