Valores de janeiro a outubro caíram 21% em relação ao mesmo período no ano passado, segundo dados da plataforma Comex Stat, do Ministério do Indústria, Comércio Exterior de Serviços. Queda acontece em ano marcado por bloqueio de madeireiras pelo Ibama. Setor madeireiro está entre os primeiros na economia do estado acreano, e foi o segundo nas exportações em 2022
Reprodução/Rede Amazônica Acre
Em dez meses de 2023, o Acre registrou queda no valor total de exportações na comparação com os números de 2022. Segundo dados da plataforma Comex Stat, do Ministério do Indústria, Comércio Exterior de Serviços, os valores de janeiro a outubro deste ano caíram 21% em relação ao mesmo período em 2022.
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Metade dos setores registrou queda, com o pior resultado sendo marcado pelo setor madeireiro, que teve 71% de redução, saindo de 16.3 milhões de dólares em 2022 para 4.7 milhões de dólares em 2023.
Outro setor que acumula queda nas exportações até outubro de 2023 é o da castanha do Brasil, com 45% de redução, seguido por bovinos e derivados, que teve queda de 27,5%.
Apesar da queda geral, o setor de suínos e derivados é o destaque positivo do período. Entre janeiro e outubro, o setor teve crescimento de 200% na comparação com o mesmo período em 2022, saindo de 1.3 milhões de dólares para pouco mais de 4 milhões de dólares.
Bloqueio de madeireiras
Ibama ordena bloqueio de madeireiras do Acre por supostas irregularidades
A queda das exportações do setor madeireiro no Acre ocorre em um ano marcado pelo bloqueio das indústrias pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em abril.
Mais de 90% das madeireiras do Acre ficaram com as atividades suspensas após uma ordem de bloqueio do Ibama em todos os estados brasileiros. Segundo o instituto, o objetivo era apurar supostas irregularidades no setor.
À época, a Federação das Indústrias do Acre (Fieac) questionou o bloqueio. A Fieac e o Sindicato das Indústrias de Serrarias, Carpintarias, Tanoarias, Madeiras Compensadas e Laminados, Aglomerados e Chapas de Madeiras do Estado (Sindusmad-AC) se reuniram para debater os impactos e o que pode ser feito para ajudar os empresários.
Segundo os representantes, o bloqueio foi feito junto ao Sistema do Documento de Origem Florestal (DOF) sem aviso prévio e esclarecimentos sobre a motivação. O presidente da Fieac, José Adriano, falou com a Rede Amazônica sobre os prejuízos que o bloqueio pode causar e a falta de diálogo com o instituto.
“O que deixou a gente surpreso é que dentro desse formato cautelar, acho que não precisaria ser dessa forma, sem qualquer esclarecimento. A gente buscou tirar as dúvidas com o Ibama local”, criticou.
O g1 tentou contato com a superintendência do Ibama no Acre para saber dos resultados deste procedimento de bloqueio às madeireiras, e aguarda retorno até esta publicação.
Apesar do procedimento, o presidente do Sindusmad minimiza os impactos e explica que, conforme as madeireiras apresentaram documentação, o Ibama liberou a retomada das atividades.
Thyago Barlatti destaca que diversos outros fatores dificultaram a produção em 2023, e espera que o cenário melhore no próximo ano.
“Ano bem difícil para vários setores na economia, o setor de base florestal teve uma grande queda nas vendas por vários fatores, como recessão, queda em exportação, mudança de governo, entre outros. Esperamos que em 2024 tenhamos um ano em que o setor volte a crescer”, avalia.
Contexto
Porém, para o doutor em economia Carlos Franco, os bloqueios tiveram impacto direto no resultado acumulado pelo setor madeireiro até o momento. Já no caso da castanha, o especialista aponta que a queda nas vendas para parceiros internacionais pode ser explicada pelo crescimento no consumo do mercado interno.
“Isso gerou um embargo, e com certeza foi esse aspecto. No caso da castanha, a nossa produção vem crescendo, os dados da produção de castanha no Acre são muito fortes nos últimos três anos. A questão da exportação é porque está vendendo muito no mercado interno. As empresas de chocolate, barra de cereal, elas estão aumentando o consumo de uma forma muito forte. Então, nesse caso da castanha, é porque o mercado interno está consumindo muito”
No caso do mercado bovino, Franco aponta o embargo do mercado chinês à carne brasileira como principal fator na redução das exportações. O embargo ocorreu por conta de um caso de brucelose e afetou todo o país, não apenas o Acre. Na avaliação do especialista, o cenário deve se recuperar no próximo ano.
“O mercado bovino também teve um problema de embargo com a China. Na verdade, o Brasil suspendeu as exportações para a China porque apareceu um caso de brucelose, mas foi uma coisa momentânea e foi uma decisão brasileira de suspender. Foi apenas um caso, não teve nada de alarmante, mas isso gerou uma redução no volume das exportações de bovino no país todo, não foi só no caso do Acre. O mercado se regularizou, e tem uma tendência a voltar aos volumes de exportações no ano que vem”, pontua.
Ainda segundo Franco, a economia brasileira ainda sente os efeitos da pandemia, que afetou a oferta de insumos no mercado internacional. Países que exportavam e reduziram as exportações durante a pandemia, agora voltaram a ofertar produtos, o que pode refletir na redução na importação de produtos florestais do Acre, como madeira e castanha.
“Isso afeta o caso da madeira e da castanha. A madeira também vive a pressão das políticas ambientais. Já a castanha, a pressão é da retomada da oferta pela Bolívia e pelo Peru, e alguns outros mercados que substituem a castanha brasileira no mercado internacional”, acrescenta.
Saldo em 2022
Em 2022, o Acre bateu recorde mais um recorde no saldo da balança comercial. Dados, divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior, ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, mostram que durante todo o ano passado, o estado teve um superávit de US$ 49,1 milhões.
As exportações chegaram a US$ 54.365.656, enquanto as importações somaram 5.247.469 dólares.
No ano passados, milho, soja e derivados representaram 33% das exportações do Acre. Madeira e derivados ficaram em segundo lugar, configurando 32,3% do que foi exportado, seguido da castanha, com 17,9% das exportações. Bovinos e derivados somam 9,3% e suínos e derivados 3,1%. Os principais destinos das exportações foram:
Peru (16,2%);
Holanda (10%);
Estados Unidos (8,5);
Bolívia (7,9%) e;
Hong KOng (7,6%).
VÍDEOS: g1
Com bloqueio de grandes empresas, AC tem queda nas exportações no setor madeireiro
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