Família de enfermeira morta em perseguição policial vai à Aleac pedir apoio de deputados: ‘para não cair no esquecimento’


Família foi recebida pelos deputados Edvaldo Magalhães (PCdoB) e Adailton Cruz (PSB) nesta terça-feira (5). Géssica Melo de Oliveira, de 32 anos, morreu no último sábado (2) após ser baleada durante uma perseguição policial do Gefron. Família de enfermeira morta em perseguição policial vai à Aleac pedir apoio de deputados
Reprodução
Familiares da enfermeira Géssica Melo de Oliveira, de 32 anos, que foi morta durante perseguição policial no último sábado (2) na BR-317, em Capixaba, interior do Acre, foram até a Assembleia Legislativa (Aleac), nesta terça-feira (4), pedir o apoio dos deputados.
O grupo foi recebido pelos deputados Edvaldo Magalhães (PCdoB) e Adailton Cruz (PSB), que se comprometeram em acompanhar de perto o caso e disponibilizar assessoria jurídica para auxiliar a família, se for o caso.
Leia mais:
Caso Géssica: enfermeira morta em perseguição policial teve pulmão e estômago atingidos por tiros
Especialista em segurança avalia ação da PM que matou enfermeira em surto no AC: ‘legítima defesa não se sustenta’
Enfermeira morre após ser baleada durante perseguição policial no Acre
Família nega que enfermeira morta em perseguição policial no AC tinha pistola: ‘forjaram isso’
Veja o que se sabe sobre a morte de enfermeira após perseguição policial no Acre
Segundo a família, a enfermeira teve um pulmão e o estômago atingidos por dois tiros disparados pelo Grupo Especial de Fronteira (Gefron) durante a perseguição policial. O Gefron afirma que Géssica estava armada, fazia manobras perigosas que colocavam em risco a vida de outras pessoas e por isso atiraram no carro para pará-la.
A sobrinha de Géssica, a autônoma Alisandra Freitas, que esteve na Aleac nesta terça disse que a família foi em busca de apoio para que o caso não fique impune. Eles pediram que a Justiça seja feita e que a memória da enfermeira seja respeitada.
“Viemos em busca de apoio para que não fique impune, para não cair no esquecimento, que a verdade venha à tona e que não fiquem sujando a imagem dela, porque o que sai não é verdade. Ela não tinha arma, ela não tinha condições, nem financeira, nem psicológica, de manusear uma arma, porque uma arma de 9 mm exclusiva do Exército e da polícia, como é que ia estar com uma cidadã? Não tem lógica isso. Ela não era essa coisa que estão falando dela, ela não é bandida. Ela precisava de ajuda. Uma pessoa que sofre com depressão precisa de ajuda, não de julgamentos”, afirmou a sobrinha.
Alisandra disse ainda que há dois anos a enfermeira enfrentava a depressão e que a família chegou a buscar ajuda, mas que não conseguiu. “Não é fácil. Mas, a gente vai usar as últimas forças para provar que ela não era o que estão falando e que a justiça seja feita, porque isso não pode ficar impune, quem deve tem que pagar. Eles não podem defender outras pessoas, sendo que eles atiraram para matar. Eles não atiraram para impedir ela de continuar, eles atiraram para matar.”
Familiares de Géssica foram recebidos pelos deputados Edvaldo Magalhães e Adailton Cruz na Aleac
Arquivo pessoal
O deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB) destacou que o caso de Géssica mobilizou toda população do Acre e que a conversa com os familiares foi muito delicada.
“Eles não querem que o caso caia no esquecimento e, mais ainda, querem resgatar e garantir a memória. Isso é muito importante num processo de investigação que certamente será acompanhado por muitos órgãos e instituições. E a Assembleia também vai fazer isso. Porque é muito importante tirar todas as lições dessa tragédia. Essa execução não pode cair no esquecimento. E as instituições precisam se preparar muito mais para poder lidar com o problema dessa natureza. Nós vamos fazer um acompanhamento”, disse.
Géssica Oliveira foi morta durante perseguição policial no interior do Acre
Arquivo pessoal
O que diz a polícia
A coordenação do Gefron informou que um policial da equipe viu a motorista com uma arma nas mãos e atirou em direção ao carro na tentativa de pará-lo. Após os disparos, no quilômetro 102, nas proximidades da entrada do Ramal da Alcoolbrás, a enfermeira perdeu o controle do veículo, entrou em uma área de mata e bateu o carro em uma cerca.
Em nota, a Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Acre (Sejusp) disse que foram efetuados cinco disparos em direção ao veículo. Contudo, a família afirma que havia mais de dez perfurações no veículo. O carro foi retirado do local em cima de guincho e, conforme a família, levado para a PRF-AC.
Géssica tinha depressão e, possivelmente, teve um surto no sábado e saiu dirigindo em direção ao interior do estado. Após a morte, a polícia diz que achou uma pistola 9 milímetros jogada próximo ao local onde o carro parou. A arma é de uso restrito das forças armadas.
A família contesta a versão apresentada e diz que a enfermeira não tinha arma de fogo. Dois militares, que estavam na ação foram presos em flagrante e, nessa segunda-feira (4), a Justiça decretou a prisão preventiva dos policiais durante audiência de custódia. O Ministério Público Estadual (MP-AC) pediu a conversão da prisão em flagrante em preventiva. Os policiais seguem presos no Batalhão Ambiental, em Rio Branco.
O MP-AC também instaurou, de ofício, um procedimento investigatório criminal para apurar possível crime de homicídio doloso que teria sido praticado pelos militares. A investigação ocorre independentemente da apuração anunciada pela Corregedoria da Polícia Militar do Acre e pela Polícia Civil.
Imagens mostram início da perseguição à enfermeira que morreu baleada pela polícia no Acre
Vista pela última vez
A irmã da enfermeira, Vladirene Melo de Oliveira, foi a última pessoa da família a ver Géssica viva. Ela mora próximo da casa onde a irmã vivia e, inclusive, estava com os dois filhos dela, de 11 e 6 anos, no sábado. Ela relembra que ouviu a irmã tomar banho, orar e a viu saindo de casa.
Vladirene estava na varanda de casa quando viu Géssica sair com o carro. A última lembrança que ela tem da irmã é dela sorrindo. Géssica tinha ainda uma filha de 3 anos.
“Ela tomou banho, se arrumou, ficou muito bonita, tirou o carro da garagem, abriu a porta, colocou a mão em cima da porta, ficou olhando para a rua e ficou sorrindo. Ela ligou o som do carro, entrou e saiu. Não falamos nada, ela só sorriu. Em menos de três horas vi minha irmã morta”, lamentou.
Por causa da depressão, a irmã diz que os familiares tentavam evitar a saída de Géssica de casa. Porém, no dia do crime, Vladirene conta que a irmã estava muito tranquila. “Os dois meninos dela estavam na minha casa e a menina com minha mãe no bairro Vila Acre. Ela passava de semanas dentro de casa só estudando para concurso da polícia. A casa dela estava muito arrumada, os livros arrumados em cima de uma mesa e tinha uma bíblia”, recordou.
Na manhã dessa segunda-feira (4), a família se reuniu com o secretário de Segurança Pública do Acre, coronel José Américo de Souza Gaia, para saber mais detalhes da ocorrência.
Depressão e surtos
Ainda segundo a irmã, a enfermeira teve o primeiro surto há um ano e meio. Ela foi levada para o Pronto-Socorro de Rio Branco e ficou internada durante cinco dias. Ao sair, Vladirene disse que a irmã não quis mais tomar os remédios.
“Ela disse que estava curada, que não tinha nada. Passei ainda uma semana dando a medicação para ela, mas simplesmente parou de tomar. O sonho dela era passar no concurso da Polícia Federal, estava direto para isso”, finalizou.
No Judiciário é possível ver que no começo de novembro deste ano, a enfermeira teve um surto em uma farmácia de Rio Branco. Ela estava com o mesmo carro que dirigia no sábado, quando foi morta. Inclusive, uma medida protetiva foi dada em desfavor dela porque os filhos, de 3, 6 e 11 anos de idade estavam com marcas de agressão. No processo que corre no Juizado Especial Criminal em Rio Branco, Géssica ficou proibida de se aproximar dos filhos. Nos relatos, há informações de surtos da enfermeira.
Enfermeira teria tido um surto e saiu dirigindo em alta velocidade; Géssica deixa três filhos, todos menores de idade
Arquivo pessoal
Reveja os telejornais do Acre

Bookmark the permalink.