Dona de agência no AC investigada por estelionato cancelava passagens e sumia, dizem clientes


Pedagoga ia comemorar os 15 anos da filha em João Pessoa em março de 2024 e comprou passagens após promoção divulgada em grupo de aplicativo de mensagens. Arquiteto relata que pagou à vista e foi comunicado de que só receberia estorno após 90 dias. Entre os relatos, clientes reclamam de falta de contato por parte da proprietária da agência
Reprodução/Arte g1
Os relatos são semelhantes: pais que compraram passagens para cidades do Nordeste para comemorar o aniversário de 15 anos das filhas, viagens canceladas pela agência e dificuldade em conseguir ressarcimento ou ao menos contato com a dona da empresa. Essa é a situação de clientes da agência de viagem Paiakam Turismo, que está no centro de uma investigação de estelionato. A dona da empresa, Cleonice Costa, chegou a ser presa pelo caso, mas foi solta após audiência de custódia.
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A pedagoga Ocicleia Cabral se planejou para comemorar o aniversário da filha em João Pessoa. Ela participava de um grupo em aplicativo de mensagens no qual a Paikam Turismo divulgava promoções, e, no mês de julho, aproveitou os preços atrativos para garantir a viagem. Dois meses depois, foi avisada sobre o cancelamento dos bilhetes.
“Eu tenho um grupo, da Paikam mesmo, onde eu via muita gente comprando. Então, me interessei pela promoção que fizeram no grupo. Comprei e fui na agência, ela [a proprietária] fez o contrato, tudo direitinho. Me disseram que em 15 dias eu iria embarcar. Passaram dois meses, ela mandou um e-mail dizendo que a passagem estava cancelada e que ia fazer o estorno. E nisso, estou esperando até esse estorno, que ela não faz”, conta.
Ocicleia diz ainda que chegou a procurar a agência para solicitar a devolução do valor pago, mas não conseguiu falar com Cleonice. Após várias tentativas de contato, sem sucesso, ela relata o sentimento de frustração dela e de vários outros clientes com histórias semelhantes.
Ela conta que teve um prejuízo de R$ 3 mil, e lamenta que todo o planejamento para o aniversário da filha tenha sido desperdiçado.
“Eu fui até a agência, não consegui mais ver essa mulher porque ela desapareceu. Não é apenas o meu caso, tem cem pessoas no grupo que foram prejudicadas pela Paiakam. Eu já andei para tudo que foi lado, já fui para delegacia, já fui para Ministério Público, já fui para defensoria, e até agora a gente não resolveu nada. A gente está praticamente à mercê. Todo mundo foi na agência, não foi só eu. A gente tem um grupo e ela simplesmente desapareceu. Eu já desisti. Porque você paga mais de R$ 3 mil, paga hospedagem, que eu ainda estou tentando fazer o cancelamento, e [Cleonice] simplesmente desapareceu. Eu já dei por água abaixo. É frustrante, porque você se prepara para tudo, prepara as férias, e simplesmente acontece isso”, reclama.
Pedagoga Ocicleia Cabral ia comemorar o aniversário de 15 anos da filha em João Pessoa e teve bilhete cancelado
Richard Lauriano/Rede Amazônica Acre
‘Sonhos por água abaixo’
“A gente comprou de uma forma antecipada. Depois de 30 dias, a agência nos passou um e-mail dizendo que as passagens tinham sido canceladas, e que 90 dias era o prazo que pediram para ser estornado o valor. Diga-se de passagem, 90 dias é um prazo muito longo. Meu pagamento foi à vista. Então, nada mais justo do que o estorno também ser à vista”, questiona o arquiteto Davi Wellinton.
Wellinton conta que tentou falar com a empresa para negociar o estorno, ou até prorrogar o prazo para embarque e, quem sabe, conseguir uma nova data para a viagem, mas não recebeu nenhum retorno.
Davi Wellinton é arquiteto e vai comemorar o aniversário de 15 anos da filha em Natal
Richard Lauriano/Rede Amazônica Acre
Ele critica ainda a justificativa dada pela empresária para os cancelamentos. Segundo Cleonice, a Paikam foi prejudicada por uma outra empresa que fornecia passagens, e que entrou com processo contra essa fornecedora.
“Não adianta a gente vir aqui e ficar esquecido. Como a gente já tinha conversado, a gente comprou a passagem da Paikam, e a proprietária alega que a companhia dela é de outra empresa. Mas nós fizemos a compra com a Paikam, não fizemos a compra com outra empresa. Então, nada mais justo do que a responsável, a Paikam, nos reembolsar. A gente chega na agência, está tudo fechado, tudo lacrado, nada existe mais lá, só a placa. Só a placa e muitas pessoas, centenas de pessoas com sonhos por água abaixo”, acrescenta.
Cleonice Costa chegou a ser presa no dia 30 de novembro, mas foi solta após audiência de custódia
Arquivo pessoal
Defesa alega ameaças
Cleonice Costa foi presa na quinta-feira (30) suspeita de estelionato em Rio Branco. Ela é investigada por suspeita de enganar diversas pessoas que compraram passagens e pacotes de viagens. Ela foi solta após audiência de custódia.
À Rede Amazônica Acre, a advogada Vanessa Paes disse que a sede da empresa está fechada por conta de ameaças recebidas por Cleonice. Vanessa também alega que a agência está tentando outros fornecedores para emitir passagens e que está devolvendo valores a clientes.
“A Paiakam teve que fechar sua sede física devido a muitas ameaças de morte, de agressões físicas, inclusive por redes sociais, pessoalmente. Algumas pessoas começaram a perseguir [Cleonice] em locais públicos, e acabou que foi necessário fechar. Isso é uma coisa que agrava, pois a empresa está tentando trabalhar com outro outros fornecedores, as passagens estão sendo emitidas corretamente, a empresa está fazendo acordos e fazendo devoluções também pros clientes”, alega.
Rayane Araújo, outra advogada de Cleonice, afirma que a Paikam não está de posse dos valores pagos pelos clientes, e voltou a argumentar que foram repassados a uma outra fornecedora, que foi a responsável pelo cancelamento dos bilhetes.
Porém, em um email encaminhado à Paiakam pela fornecedora, ela afirma que suspendeu os repasses dos valores para que sejam devolvidos aos clientes judicialmente. No mesmo documento, eles alegam que a empresa Paiakam não tem comparecido às audiências já realizadas, dificultando a realização de acordos.
“Os valores que foram pagos, eles não estão com a Paiakam. Eles foram direcionados para essa outra empresa fornecedora das passagens. A gente já entrou judicialmente para requisitar esses valores, e estamos aguardando uma decisão”, acrescenta Rayane.
Clientes tentam reaver valores pago após terem bilhetes cancelados

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