Mais de 300 pessoas estão em abrigos por conta da cheia do Rio Juruá no interior do AC


Nove escolas estão sendo utilizadas como abrigos em Cruzeiro do Sul. Além das escolas municipais, três da rede estadual suspenderam as aulas para atender os desabrigados. Manancial está acima dos 14 metros neste sábado (9) Nove escolas estão sendo utilizadas como abrigos em Cruzeiro do Sul
Reprodução/Rede Amazônica Acre
O município de Cruzeiro do Sul, no interior do Acre, tem mais de 300 pessoas em abrigos montados em escolas do município por conta da cheia do Rio Juruá. Na manhã deste sábado (9), o nível do rio estava em 14,01 centímetros, mais de um metro acima da cota de transbordo, que é de 13 metros.
Acima da cota de transbordo desde o dia 28 de fevereiro, o Rio Juruá já alcançou pelo menos 26 bairros da segunda maior cidade do estado.
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Seis escolas municipais e três estaduais estão sendo utilizadas como abrigos, e a cada momento, novas famílias chegam nas escolas. Já são 318 pessoas, segundo a prefeitura. Uma delas foi a família de Edson Amaral, morador do Bairro da Várzea. Ele lamenta os prejuízos com os móveis que perdeu e diz que decidiu vir para um local seguro para seus filhos.
Edson Amaral levou as filhas para abrigo após árvore atingir a casa da família
Reprodução/Rede Amazônica Acre
“Caiu uma árvore lá e ficou em frente a nossa casa, derrubou a cerca, trapiche, está tudo desmoronando. O barrote está carregando os entulhos e a casa está frágil. Os móveis, a geladeira quase queimou, o sofá não presta mais, vamos jogar fora. Armário, guarda-roupas, cama”, disse.
De acordo com a Defesa Civil Municipal, mais de cinco mil famílias já foram afetadas direta ou indiretamente, e mais de 100 famílias precisaram sair de casa. Quase 40 estão abrigadas em escolas municipais que ainda não tiveram o ano letivo iniciado. Com o aumento no número de desabrigados, o governo do estado disponibilizou três escolas que tiveram as aulas interrompidas para servir de abrigo.
No total, 19.694 pessoas foram atingidas pela cheia no município, segundo o boletim emitido pelo governo do estado neste sábado (9). Veja os dados abaixo:
Famílias desalojadas: 39
Famílias desabrigadas: 93
Famílias atingidas: 4.991
Nº de bairros atingidos: 12
Abrigos públicos: 11
Abrigos: 13
“A gente está com nove abrigos completos. O estado está disponibilizando as escolas que precisamos, e já estamos levando as pessoas. E outras escolas do estado estão sendo preparadas para estas famílias”, explicou o coordenador José Lima.
A dona de casa Eliangela Marçal também não teve como permanecer em casa. Além dos transtornos com a casa inundada, ela também tinha preocupação com os perigos para os filhos por conta de animais peçonhentos. Ela conta que vivia aflita após encontrar cobras e escorpiões dentro de sua residência.
“Já estava há três dias sem água em casa, e ficamos pedindo água para um e outro. Os vizinhos já não têm, como vão tirar deles? Pedi ajuda à Defesa Civil, e deu tudo certo. Consegui dormir, pois estava há cinco noites sem conseguir. Dormia um pouco, mas acordava e ficava observando meus filhos, com medo de insetos. Já matei duas cobras, escorpião, rato, correndo por cima da casa. Tudo por causa da alagação. Também já apareceu mucura”, finalizou.
Famílias atingidas pela enchente estão abrigadas em nove escolas de Cruzeiro do Sul
Cheia no Acre
Em todo o estado, pelo menos 28.952 pessoas estão fora de casa, dentre desabrigados e desalojados, segundo a última atualização feita pelo governo do estado neste sábado (9). 19 das 22 cidades acreanas estão em situação de emergência por conta do transbordo de rios e igarapés. Ao menos 23 comunidades indígenas no interior do Acre também sofrem com os efeitos das enchentes e cinco pessoas já morreram em decorrência da cheia. O número aumentou nesta quarta após um bebê de 1 ano e 8 meses morrer afogado no quintal de casa na Comunidade Tapiri, zona rural de Cruzeiro do Sul.
Poucos meses separam o ápice de uma seca severa e a chegada de enchentes devastadoras no Acre (leia mais abaixo). Para entender as crises sucessivas que levaram emergência para o estado é preciso considerar ao menos três fatores:
a influência do El Niño
o atraso do “inverno amazônico”, como é conhecida a estação chuvosa na região
o impacto do aquecimento do Oceano Atlântico
De acordo com a Energisa, companhia responsável pela distribuição de energia elétrica no Acre, já são mais de sete mil imóveis com fornecimento suspenso.
O Rio Acre alcançou a maior marca de todos os tempos em 4 de março de 2015. À época, mais de 100 mil pessoas foram atingidas pelo avanço das águas. O governo estadual decretou situação de emergência e estado de calamidade pública, que foram reconhecidos pelo governo federal. O manancial ficou 32 dias acima da cota de alerta, que é de 13,50 metros.

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