Rio Acre reduz quase meio metro em 12 horas na capital e segue abaixo de 17 metros


Na manhã deste sábado (9), rio chegou a 16,20 metros às 6h. Essa já é a segunda maior cheia da história de Rio Branco, desde que a medição começou a ser feita, em 1971. Já é perceptível a diminuição no nível do Rio Acre
Richard Lauriano/Rede Amazônica
Após ficar acima dos 17 metros depois de oito dias, o nível do Rio Acre na capital acreana chegou a 16,20 metros na medição das 6h, com diminuição de 48 centímetros em comparação à ultima medição de sexta-feira (8) às 18h, segundo a Defesa Civil de Rio Branco, quando estava em 16,68 metros. Às 9h, o rio baixou ainda mais para 16,02 metros.
O manancial estava acima de 17 metros desde o dia 29 de fevereiro, e na última quarta, alcançou a maior cota do ano, de 17,89 metros. Essa já é a segunda maior cheia da história, desde que a medição começou a ser feita, em 1971. A maior cota histórica já registrada é de 18,40 metros em 2015.
A primeira vez que o Rio Acre alcançou a marca histórica foi em 29 de fevereiro (veja abaixo a evolução do nível do rio).
Poucos meses separam o ápice de uma seca severa e a chegada de enchentes devastadoras no Acre (leia mais abaixo). Para entender as crises sucessivas que levaram emergência para o estado é preciso considerar ao menos três fatores:
a influência do El Niño
o atraso do “inverno amazônico”, como é conhecida a estação chuvosa na região
o impacto do aquecimento do Oceano Atlântico
Em 2024, já são 51 bairros e 23 comunidades rurais atingidas pela cheia em Rio Branco, e mais de 4 mil pessoas estão desabrigadas, segundo a prefeitura da capital, com dados desta sexta (8). Os números ainda não foram atualizados no sábado. Mais de 70 mil pessoas foram afetadas, direta ou indiretamente, pela cheia do manancial em Rio Branco.
De acordo com a Energisa, companhia responsável pela distribuição de energia elétrica no Acre, já são mais de sete mil imóveis com fornecimento suspenso.
O Rio Acre alcançou a maior marca de todos os tempos em 4 de março de 2015. À época, mais de 100 mil pessoas foram atingidas pelo avanço das águas. O governo estadual decretou situação de emergência e estado de calamidade pública, que foram reconhecidos pelo governo federal. O manancial ficou 32 dias acima da cota de alerta, que é de 13,50 metros.
Em todo o estado, pelo menos 28.952 pessoas estão fora de casa, dentre desabrigados e desalojados, segundo a última atualização feita pelo governo do estado neste sábado (9). 19 das 22 cidades acreanas estão em situação de emergência por conta do transbordo de rios e igarapés. Ao menos 23 comunidades indígenas no interior do Acre também sofrem com os efeitos das enchentes e cinco pessoas já morreram em decorrência da cheia. O número aumentou nesta quarta após um bebê de 1 ano e 8 meses morrer afogado no quintal de casa na Comunidade Tapiri, zona rural de Cruzeiro do Sul.
Somente nos abrigos mantidos pela prefeitura de Rio Branco, no Parque de Exposições e escolas, são 4.147 pessoas desabrigadas, segundo a Defesa Civil Municipal nesta sexta (8):
Parque de Exposições Wildy Viana: 896 famílias – 3.584 pessoas
Escolas da capital: 184 famílias em 10 escolas da capital, um total de 563 pessoas
O trânsito no Centro e no Segundo Distrito da capital sofreram alterações na última segunda-feira (4) e na manhã desta terça pontos de congestionamento foram registrados na capital. A Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (RBTrans) orienta os condutores a evitarem o congestionamento do Centro da cidade.
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Ministros no Acre
Nesta segunda-feira (4), uma comitiva do governo federal chegou ao Acre para dar assistência aos atingidos pela cheia. Vieram, entre outros, o ministro de Desenvolvimento Regional, Waldez Góes e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Em entrevista coletiva, ele disse que as ajudas humanitárias ao estado devem superar os R$ 30 milhões que foram enviados no ano passado, quando o Rio Acre e igarapés transbordaram na capital.
“Temos que considerar depois o restabelecimento, reconstrução de muitos ambientes que estão sendo perdidos e trabalhar a questão da adaptação, que a ministra Marina conduz esse projeto que é muito importante, tem o Fundo Clima que ela vai se referir, tem valores da adaptação climática”, destacou.
Cheia no Rio Acre atinge 7 municípios
Arte g1
A ministra Marina Silva destacou que eventos como as enchentes são agravadas por alguns fatores: desmatamento, assoreamento de rios e a mudança do clima.
“Por isso estamos trabalhando um plano estruturante, são nove ministérios trabalhando para que a gente possa dar uma resposta junto com os estados mais ponderáveis e os municípios mais ponderáveis. E, obviamente, a principal ação é enfrentar a causa do problema: desmatamento, que aumenta a temperatura da terra, faz com que a haja o assoreamento dos rios e também faz com a gente tenha cada vez mais esses eventos”, confirmou.
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O Governo Federal liberou ainda mais de R$ 20 milhões para as ações de assistência aos atingidos pelas enchentes no Acre, na capital e no interior do estado. As portarias foram publicadas nas edições dos dias 29 de fevereiro e esta segunda-feira (4) no Diário Oficial da União (DOU). Para capital Rio Branco foram destinados mais de R$ 4 milhões.
Em edição extra do Diário Oficial do Estado (DOE) de sexta-feira (1º), o governo do Acre declarou emergência em saúde pública no estado em razão da cheia dos rios e o volume das chuvas que atingem 19 municípios do estado, desde o dia 21 de fevereiro. O decreto tem vigência de 180 dias.
Localizado em uma zona próxima à linha do Equador, o Acre tem clima equatorial caracterizado por altas temperaturas e umidade. O verão geralmente dura entre os meses de junho a agosto. Já o inverno vai de outubro até março.
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Em abril e maio, há um período de transição das chuvas para a seca e em setembro a transição de volta ao período chuvoso. O ápice da estação pluvial ocorre geralmente entre janeiro e março. Com isso, sobem os níveis dos rios em toda a região amazônica, já que chove muito, principalmente nas nascentes destes mananciais.
Renato Senna, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Amazônica (INPA), explicou ao g1 que as características da estação chuvosa são céu encoberto e chuvas contínuas, diferentemente do que se tem observado nas últimas semanas. Além disto, destacou a influência do El Niño na cheia do Rio Acre.
“Quando as pancadas acontecem muito próximas à cabeceira dos rios, o nível sobe muito rápido. Mas, a tendência é também descerem rapidamente se a chuva não for contínua”, avalia.
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Arte/g1
Previsão do tempo
Pôr do sol no AC
Laryssa Melo/Arquivo pessoal
O tempo deve ficar mais estável em todo o Acre neste sábado (9), segundo o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam). A previsão é de sol, calor e tempo abafado em todas as regiões.
O fluxo de umidade que exercia influência na região perde força, segundo a instituição. Contudo, ainda há possibilidade de pancadas de chuva com trovoadas entre a tarde e a noite e o tempo deve variar de parcialmente nublado a nublado em todas as áreas.
VÍDEOS: g1

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