Após 17 dias, Rio Acre sai da cota de transbordo na capital


Manancial diminuiu mais de 1 metro nas últimas 24 horas e chegou a 13,80 metros na medição de segunda (11), às 6h. Cerca de 40 famílias já deixaram os abrigos em Rio Branco e receberam sacolões e kits de limpeza. Nível do Rio Acre continua diminuindo na capital e apresenta 13,80 metros, 20 centímetros abaixo da cota de transbordo
Richard Lauriano/ Rede Amazônica
O nível do Rio Acre reduziu mais de um metro nas últimas 24 horas na capital acreana e chegou a 13,80 metros na medição das 6h desta segunda-feira (11), feita pela Defesa Civil Municipal. Com isto, o manancial sai da cota de transbordo, que é de 14 metros, onde estava acima da marca há 17 dias.
Às 6h do dia anterior, o rio estava em 15,05 metros, 1,25 metro acima da medição registrada nesta segunda.
Com a vazante, cerca de 40 famílias já deixaram por conta própria os abrigos montados pela Prefeitura de Rio Branco. Contudo, o órgão explicou que essas pessoas não foram liberadas a voltarem, mas receberam assistência com sacolões e kits de limpeza.
Em Rio Branco, o manancial ultrapassou a cota de transbordo, que é 14 metros, dia 23 de fevereiro. Já no dia 29 do mesmo mês, seis dias depois, o Rio Acre atingiu a marca de 17 metros e permaneceu acima da marcação até a última sexta-feira (8), quando baixou para 16,59 metros.
Na quarta (6), o manancial alcançou a maior cota do ano – 17,89 metros. Essa é a segunda maior cheia da história, desde que a medição começou a ser feita, em 1971. A maior cota histórica já registrada é de 18,40 metros em 2015. À época, mais de 100 mil pessoas foram atingidas pela cheia.
O governo estadual decretou situação de emergência e estado de calamidade pública, que foram reconhecidos pelo governo federal. (Veja abaixo a evolução do nível do rio).
Poucos meses separam o ápice de uma seca severa e a chegada de enchentes devastadoras no Acre (leia mais abaixo). Para entender as crises sucessivas que levaram emergência para o estado é preciso considerar ao menos três fatores:
a influência do El Niño
o atraso do “inverno amazônico”, como é conhecida a estação chuvosa na região
o impacto do aquecimento do Oceano Atlântico
Ao todo, a enchente deste ano atingiu 51 bairros e 23 comunidades rurais atingidas e deixou mais de 4 mil pessoas desabrigadas, segundo a Prefeitura de Rio Branco. Mais de 70 mil pessoas foram afetadas, direta ou indiretamente, pela cheia.
Em todo o estado, pelo menos 28.952 pessoas estão fora de casa, dentre desabrigados e desalojados, segundo a última atualização feita pelo governo nesta segunda (11). Das 22 cidades, 19 estão em situação de emergência por conta do transbordo de rios e igarapés.
Ao menos 23 comunidades indígenas no interior do Acre também sofrem com os efeitos das enchentes e cinco pessoas já morreram em decorrência da cheia. O número aumentou na última quarta após um bebê de 1 ano e 8 meses morrer afogado no quintal de casa na Comunidade Tapiri, zona rural de Cruzeiro do Sul.
Somente nos abrigos mantidos pela prefeitura de Rio Branco, no Parque de Exposições e escolas, são 4.147 pessoas desabrigadas, segundo a Defesa Civil Municipal na sexta (8):
Parque de Exposições Wildy Viana: 896 famílias – 3.584 pessoas
Escolas da capital: 184 famílias em 10 escolas da capital, um total de 563 pessoas
Ações de solidariedade buscam ajudar afetados pela cheia do Rio Acre
Ministros no Acre
Na última segunda-feira (4), uma comitiva do governo federal chegou ao Acre para dar assistência aos atingidos pela cheia. Vieram, entre outros, o ministro de Desenvolvimento Regional, Waldez Góes e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Em entrevista coletiva, o ministro Waldez Góes disse que as ajudas humanitárias ao estado devem superar os R$ 30 milhões que foram enviados no ano passado, quando o Rio Acre e igarapés transbordaram na capital.
“Temos que considerar depois o restabelecimento, reconstrução de muitos ambientes que estão sendo perdidos e trabalhar a questão da adaptação, que a ministra Marina conduz esse projeto que é muito importante, tem o Fundo Clima que ela vai se referir, tem valores da adaptação climática”, destacou.
Cheia no Rio Acre atinge 7 municípios
Arte g1
A ministra Marina Silva destacou que eventos como as enchentes são agravadas por alguns fatores: desmatamento, assoreamento de rios e a mudança do clima.
“Por isso estamos trabalhando um plano estruturante, são nove ministérios trabalhando para que a gente possa dar uma resposta junto com os estados mais ponderáveis e os municípios mais ponderáveis. E, obviamente, a principal ação é enfrentar a causa do problema: desmatamento, que aumenta a temperatura da terra, faz com que a haja o assoreamento dos rios e também faz com a gente tenha cada vez mais esses eventos”, confirmou.
Família se muda para barco ancorado em frente de casa inundada pelas águas do Rio Acre
Por causa de cheia, ponte do Igarapé São Francisco é interditada em Rio Branco
Ministros da Integração e do Meio Ambiente chegam ao Acre para visitar áreas atingidas pelas enchentes
O governo federal liberou ainda mais de R$ 20 milhões para as ações de assistência aos atingidos pelas enchentes no Acre, na capital e no interior do estado. As portarias foram publicadas nas edições dos dias 29 de fevereiro e na segunda-feira (4) no Diário Oficial da União (DOU). Para capital Rio Branco foram destinados mais de R$ 4 milhões.
Em edição extra do Diário Oficial do Estado (DOE) de sexta-feira (1º), o governo do Acre declarou emergência em saúde pública no estado em razão da cheia dos rios e o volume das chuvas que atingem 19 municípios do estado, desde o dia 21 de fevereiro. O decreto tem vigência de 180 dias.
Localizado em uma zona próxima à linha do Equador, o Acre tem clima equatorial caracterizado por altas temperaturas e umidade. O verão geralmente dura entre os meses de junho a agosto. Já o inverno vai de outubro até março.
Da seca extrema à cheia histórica: entenda os fatores climáticos que fazem o Acre viver nova emergência
Em abril e maio, há um período de transição das chuvas para a seca e em setembro a transição de volta ao período chuvoso. O ápice da estação pluvial ocorre geralmente entre janeiro e março. Com isso, sobem os níveis dos rios em toda a região amazônica, já que chove muito, principalmente nas nascentes destes mananciais.
Renato Senna, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Amazônica (INPA), explicou ao g1 que as características da estação chuvosa são céu encoberto e chuvas contínuas, diferentemente do que se tem observado nas últimas semanas. Além disto, destacou a influência do El Niño na cheia do Rio Acre.
“Quando as pancadas acontecem muito próximas à cabeceira dos rios, o nível sobe muito rápido. Mas, a tendência é também descerem rapidamente se a chuva não for contínua”, avalia.
Enchentes no Acre começaram em Assis Brasil na segunda quinzena de fevereiro
Arte/g1
Previsão do tempo
Segundo o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), segunda (11) será de chuvas em todo o Acre. A nebulosidade aumenta ligeiramente no estado com a elevação da umidade na região.
A previsão para este dia é de muitas nuvens com pancadas de chuva e trovoadas isoladas durante todo o dia.
VÍDEOS: g1

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