Homicídios ocultos mudariam ranking de estados mais violentos do país; compare


Desde 2013, Brasil teve 51.618 mil assassinatos que foram classificados com de morte por causa indeterminada, aponta Atlas da Violência. Ao contabilizá-los, Santa Catarina passa a ser o estado menos violento do país, à frente de São Paulo. Acre e Rio Grande do norte também mudam de posição. Governo apresenta PEC da Segurança Pública a líderes da Câmara dos Deputados
O Brasil teve, entre 2013 e 2023, o Brasil 51.608 homicídios que foram classificados como mortes sem causa determinada, aponta o Atlas da Violência divulgado nesta segunda-feira (12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
O estudo classifica essas mortes como homicídios ocultos. Eles representam 38% das mortes ocorridas de morte violenta no período (135,4 mil) e que o poder público não classificou como acidente, suicídio ou homicídio (leia mais abaixo sobre como os pesquisadores fizeram a conta).
A principal razão, segundo o estudo, é a deterioração na qualidade dos registros de óbitos em alguns estados, associada à dificuldade das autoridades em determinar se a morte foi resultado de homicídio, acidente ou suicídio.
Os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia concentraram dois terços (66,4%) dos homicídios ocultos, segundo o estudo.
Caso esses homicídios fossem somados ao total, o número de assassinatos no Brasil saltaria de 598.399 para 650.007 entre 2013 e 2023, e de 45.747 para 49.502 em 2023.
O ranking dos estados mais e menos violentos também mudaria: Santa Catarina passaria a ser a unidade da federação com menor taxa de mortes por 100 mil habitantes, à frente de São Paulo. Além deles, Acre, Rio de Janeiro, Paraíba e Rio Grande do Norte mudariam de posição. Veja no infográfico abaixo:
Ranking de estados com taxa de homicídios a cada 100 mil habitantes
Arte/g1
Em nota, o governo de São Paulo diz que “faz monitoramento e análise minuciosa dos casos registrados com vítimas fatais, garantindo que cada ocorrência seja registrada e investigada adequadamente para evitar que casos de homicídio sejam erroneamente classificados como morte suspeita”. (Leia a nota na íntegra ao fim da reportagem).
O Anuário aponta que a inclusão dos homicídios ocultos “faz mudar significativamente os indicadores” dos estados e cita que 66% destes casos se concentram em quatro estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia.
“São Paulo é o caso mais extremo: em 2023, o estado deixou de registrar 2.277 homicídios. Assim, enquanto a taxa de homicídios registrados era de 6,4 para cada 100 mil habitantes, a taxa estimada naquele ano era de 11,2. Com isso, o estado de São Paulo deixa de ser a UF menos violenta da nação, passando para a segunda posição, atrás de Santa Catarina”, dizem os pesquisadores.
Como o problema foi identificado
O Atlas da Violência 2025 faz uma distinção importante entre dois conceitos. O primeiro é o de Mortes Violentas por Causa Indeterminada (MVCI), que ocorre quando uma pessoa morre de forma violenta, mas as autoridades de saúde e segurança não conseguem determinar a natureza da morte — ou seja, não se sabe se foi homicídio, suicídio ou acidente. Essas mortes ficam classificadas oficialmente como de causa indeterminada e não entram nas estatísticas formais de homicídio.
Já os homicídios ocultos são uma subcategoria dentro das MVCI. Ou seja, eles correspondem à parcela dessas mortes indeterminadas que, na prática, foram homicídios — mas não foram reconhecidos como tal nos registros. O desafio, portanto, foi estimar quantas dessas mortes indeterminadas eram, de fato, assassinatos não contabilizados.
Para chegar a essa estimativa, os pesquisadores aplicaram uma metodologia que analisou padrões históricos de mortes violentas no Brasil desde 1996, levando em conta características pessoais e situacionais (como sexo, idade, local e circunstâncias da morte). A partir desses padrões, o algoritmo calculou a probabilidade de cada MVCI ser um homicídio. Com isso, foi possível estimar que, entre 2013 e 2023, 51.608 dessas mortes indeterminadas foram, na verdade, homicídios ocultos
“A piora da qualidade dos dados fez com que existissem mais homicídios que ficaram ocultados nas estatísticas oficiais, prejudicando a análise da prevalência da violência letal”, diz o Atlas.
Veja abaixo a classificação de homicídios ocultos por estado:
Homicídios ocultos por estado
Arte/g1
Onde o cenário mudou
Em resposta às constatações do Atlas anterior (2024), 21 estados brasileiros adotaram ações em 2023 para qualificar seus dados e reduzir as mortes classificadas como causa indeterminada. O Espírito Santo é citado como exemplo de boas práticas: o estado criou um grupo de trabalho entre as secretarias de saúde, segurança pública e planejamento, integrando dados de diferentes fontes.
Com isso, o Espírito Santo reduziu de 205 para apenas 7 casos de homicídios ocultos entre 2022 e 2023, passando a ter a menor taxa desse tipo de ocultação no país. O relatório destaca que a melhoria na qualidade da informação fez com que, em muitos estados, parte das mortes ocultas voltasse a ser corretamente classificada como homicídio.
Rio Grande do Norte (-21,2%), Paraná (-14,9%), Sergipe (-13%) e Amazonas (-12,9%) são outros estados que registraram melhora nos indicadores de homicídios ocultos.
A situação piorou no Amapá, com alta de 40% nas estimativas de homicídios não registrados: subiu de 370 casos em 2022 para 519 em 2023, segundo o Atlas da Violência. A alta é de 117% se comparado o período de 2013, quando eram 239 casos estimados, para 2023.

O que diz o estado de São Paulo
“A atual gestão implantou o SPVida, que faz monitoramento e análise minuciosa dos casos registrados com vítimas fatais, garantindo que cada ocorrência seja registrada e investigada adequadamente, para evitar que casos de homicídio sejam erroneamente classificados como morte suspeita. Estes dados são disponibilizados para consulta, como forma de compromisso com a transparência.
Os dados da Secretaria da Segurança Pública são de natureza jurídica e criminológica, diferentemente dos utilizados como referência pelo levantamento e que são coletados pelo DataSUS. Estes identificam a natureza dos óbitos sob o ponto de vista sanitário. Seus critérios e finalidades são absolutamente distintos, portanto, não é razoável qualquer tipo de comparação.
O Estado de São Paulo mantém a tendência de queda nos homicídios, com as menores taxas da história. A queda progressiva no número de crimes contra a vida é reflexo do investimento em diversas políticas públicas, com a melhoria de procedimentos, ações e equipamentos das polícias, além do aperfeiçoamento dos sistemas integrados de comando e controle com as forças policiais em todo o Estado de São Paulo.”
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