‘Babygirl’ discute os limites do prazer feminino com boa atuação de Nicole Kidman; g1 já viu


Atriz ganhou o prêmio do Festival de Veneza por sua atuação e tem grandes chances de concorrer ao Oscar 2025. Filme também conta com Antonio Banderas no elenco A atriz Nicole Kidman, ao que parece, é uma forte candidata a um possível prêmio de “operária-padrão” do cinema e da TV por se envolver em diversos projetos nos últimos anos. Com fôlego de deixar muitas de suas colegas de classe a quilômetros de distância, Kidman aceitou diversos papéis e entregou interpretações que, se não eram excelentes, também não comprometiam sua carreira.
Mas nenhuma delas é tão marcante quanto a que apresenta em “Babygirl”, que pode levá-la ao Oscar 2025 após ela conquistar o prêmio de Melhor Atriz do Festival de Veneza de 2024 e outros troféus. O filme estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (9).
O drama, que tem boas pitadas de erotismo, busca discutir como as mulheres se sentem em relação ao que lhes proporciona real prazer, em contraste com a vida que levam. O filme é bonito, bem conduzido, mas não chega a empolgar por completo diante de uma proposta instigante onde poderia ir mais além.
Na trama, Kidman interpreta Romy, uma bem sucedida mulher de negócios, que comanda uma grande empresa no ramo de tecnologia. Casada com Jacob (Antonio Banderas), um diretor de teatro, e mãe de duas filhas, a personagem tem uma vida perfeita, sem maiores problemas. Até que, um dia, ela conhece Samuel (Harris Dickinson, de “Triângulo da Tristeza”), um jovem estagiário de sua firma, que mexe com seus instintos pelo comportamento incomum.
Assista ao trailer de “Babygirl”
Aos poucos, ele se aproxima cada vez mais de sua chefe e os dois acabam se envolvendo num caso tórrido, no qual Romy passa a realizar suas mais obscuras fantasias. Só que isso a deixa num grande conflito, pois não sabe se deve se entregar de vez a essa nova experiência ou se mantém tudo como estava antes, com seu marido.
Gata e rato
“Babygirl” foi vendido como um thriller erótico, mas não é bem assim. Há, realmente, alguns momentos que causam tensão, como a cena em que a personagem de Kidman vê o seu amante conversando amigavelmente com seu marido e as filhas. Nesse momento, ela tenta transparecer naturalidade diante dessa situação.
Mas o filme não é como aquelas produções que fizeram sucesso nos anos de 1980 e 1990 em que um dos personagens se mostra um psicopata disposto a tudo para acabar com a paz familiar do protagonista, tipo “Atração Fatal”. Muito pelo contrário.
Em “Babygirl”, o personagem de Harris Dicknson não quer problemas com ninguém, só quer viver intensamente, dando um caráter mais humanizado. Isso é um grande acerto do filme. Tanto que, quem vai se mostrando mais obsessiva na relação é justamente a personagem de Kidman. Em alguns momentos, ela não consegue esconder o que sente pelo rapaz, já que ele despertou sensações que ela acreditava estarem enterradas ou mesmo inexistentes.
Romy (Nicole Kidman) se envolve com Samuel (Harris Dickinson), um homem mais jovem em ‘Babygirl’
Divulgação
Esses sentimentos que a colocam em situações de dominada ao invés de dominadora contrastam com a imagem de mulher forte na vida e nos negócios que ela construiu. Nesse ponto, o filme ganha pontos ao trabalhar as questões que levam Romy (e muitas mulheres na mundo real) a desejar mais do que já possuem em sua intimidade.
A diretora e roteirista Halina Reijn (do terror “Morte, Morte, Morte”) acerta em enfocar os anseios íntimos de sua personagem já desde o início da trama, sem maiores rodeios. Ela mostra esses sentimentos da protagonista de forma simples e numa espiral crescente, o que mantém o interesse do espectador. Ela só falha em não ir tão fundo no que quer discutir, já que o terço final é mais superficial e não tem o mesmo impacto quanto o visto nas outras partes da história.
Pelo menos, a cineasta sabe como construir boas cenas entre o casal protagonista. Em um dos momentos mais marcantes do filme, há um jogo de dominação entre os dois, ao som do hit “Father Figure”, de George Michael. Aliás, o longa conta com uma boa trilha sonora, o que dá um bom ritmo para a produção.
Nicole Kidman e Harris Dickinson são os protagonistas do drama erótico ‘Babygirl’
Divulgação
Boa menina
Mas boa parte do impacto de “Babygirl” se deve a boa atuação de Nicole Kidman. A atriz demonstra não ter pudores de se expor na telona, mesmo já sendo uma estrela consagrada. Assim, ela se entrega nos momentos mais intensos do filme (alguns são até humilhantes) e não decepciona nas partes dramáticas. Certamente, ela é um dos pontos positivos do longa.
Ela também mostra uma grande química com o jovem Harris Dickinson, não só nas cenas de sexo. O ator transmite bem o ar arrogante de seu personagem, especialmente nas sequências em que submete a protagonista a seus jogos de dominação. Mas também se sai bem quando precisa colocar em evidência o que ele pensa da relação.
Quem decepciona, no entanto, é Antonio Banderas, como o marido de Kidman. O ator é prejudicado porque o roteiro não constrói bem Jacob. Ele poderia dar mais nuances a sua interpretação, contudo. Em vez disso, Banderas torna o personagem bobo e muito desinteressante. O artista já fez papéis vulneráveis, como no ótimo “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar. Mas, aqui, o astro espanhol fica a dever. O resto do elenco não tem maiores destaques em suas atuações.
“Babygirl” deve deixar o público feminino mais satisfeito do que o masculino, por tratar de temas que podem tocar o íntimo de muitas mulheres que, como a protagonista, se sentem incompletas e desejam realizar os seus desejos. Sejam eles quais forem.
Cartela resenha crítica g1
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