Líder histórico da extrema direita francesa é enterrado sob forte esquema de segurança

Filhas de Jean-Marie Le Pen chegam a seu funeral em sua localidade natal de La Trinité sur Mer, em 11 de janeiro de 2025Sebastien Salom-Gomis

Sebastien Salom-Gomis

O líder histórico da extrema direita francesa, Jean-Marie Le Pen, foi sepultado neste sábado (11) sob fortes medidas de segurança, depois que sua morte expôs a divisão que gera na França, um político polêmico e provocador.

As autoridades reforçaram a segurança em La Trinité sur Mer, localidade natal de Le Pen, no oeste da França, onde foi enterrado, depois que centenas de opositores saíram às ruas em Paris e outras cidades do país para comemorar sua morte, ocorrida na terça-feira.

Nessas concentrações festivas espontâneas, os manifestantes lançaram fogos para expressar sua reprovação a este político falecido aos 96 anos, conhecido por seus comentários xenofóbicos e antissemitas. Manifestações de júbilo que o governo francês tachou de “vergonhosas”.

Pascal Bolot, prefeito do departamento de Morbihan, onde fica a pequena localidade de La Trinité sur Mer, às margens do Atlântico, emitiu na sexta-feira uma ordem para proibir as manifestações na localidade.

Bolot argumentou que “a personalidade política do falecido” é “suscetível de atrair uma grande multidão, tanto de apoiadores quanto possivelmente de opositores, à margem da cerimônia religiosa e do enterro”.

O funeral privado aconteceu neste sábado pela tarde, na presença de sua filha Marine Le Pen, que assumiu o bastão do pai no comando do partido Frente Nacional (FN) e depois o renomeou como Reagrupamento Nacional (RN), e de outros membros da família e de seu círculo político mais íntimo.

Marine e uma de suas duas irmãs, Marie-Caroline, percorreram algumas centenas de metros da casa da família até a igreja de São José diante de uma pequena multidão de curiosos e dezenas de jornalistas.

Cerca de 200 pessoas assistiram à missa e, ao final da cerimônia, Marine parecia chorosa.

Centenas de pessoas participaram da procissão até o cemitério, que terminou com aplausos de homenagem.

No município, de aproximadamente 1.700 habitantes, foi destacado um contingente adicional de efetivos de segurança para evitar manifestações contrárias, mas a jornada transcorreu sem incidentes.

– ‘Teve a coragem de dizer as coisas’ –

Nascido em 20 de junho de 1928, Jean-Marie Le Pen participou das guerras coloniais francesas de Argélia, onde foi acusado de tortura — o que nega –, e Vietnã.

Fundou o FN em 1972, mas o ápice de sua carreira foi em 2002, quando aos 73 anos chegou ao segundo turno da eleição presidencial, que perdeu para o conservador Jacques Chirac após mobilização contrária maciça.

Embora tenha fracassado em até cinco ocasiões, conseguiu instalar a extrema direita no panorama político da França e, em 2011, cedeu as rédeas do partido a sua filha Marine Le Pen.

Marine se esforçou para moderar a imagem do partido de extrema direita e conseguiu se impor como figura política central. Em 2017 e 2022, chegou ao segundo turno em ambas as eleições presidenciais, vencidas por Emmanuel Macron.

No entanto, as relações entre pai e filha tiveram muitos altos e baixos. Em 2015, Marine o expulsou do partido depois que ele considerou que o Holocausto foi um “detalhe” da História na Segunda Guerra Mundial.

À época, Jean-Marie Le Pen refugiou-se nas suas Memórias, onde retomou seus temas favoritos como a teoria conspiratória da “grande substituição” da população francesa pela imigração.

Cumprindo com o seu desejo, o político foi enterrado no mausoléu onde repousam seus pais, perto da residência familiar.

À saída da cerimônia, Marine Le Pen de as mãos a algumas pessoas reunidas, enquanto soavam as gaitas típicas de um conjunto tradicional bretão.

“Vim para prestar homenagem a um homem que serviu a França e amou a França”, disse à AFP Johann, de 40 anos, que vive em Auray, uma localidade próxima.

Ludovic, de 43 anos, concordou e afirmou ter comparecido para homenagear “um grande homem que teve a coragem de dizer as coisas”.

“Era um visionário. Amava a França e o seu povo, e tinha valores que estão se perdendo, como o amor à pátria”, opinou.

Na quinta-feira, 16 de janeiro, está prevista uma cerimônia de despedida a Le Pen, aberta ao público, em uma igreja de Paris.

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