Família especialista em fuscas reforma carros por até R$ 500 mil e transforma paixão nacional em artigo de luxo


Oficina fundada em 1983 se tornou referência e hoje atrai famosos, como Seu Jorge e Simone Mendes. Além das cores personalizadas, projetos também incluem motor potente e câmbio automático. Família especialista em fuscas reforma carros por até R$ 500 mil; VÍDEO
O inconfundível formato arredondado, que até lembra um besouro, e a missão de ser o primeiro carro de muitos brasileiros das velhas gerações. Não são poucos os motivos que fazem do fusca muito mais que um mero meio de transporte.
Para os amantes de veículos antigos, o fusquinha pode inclusive ser visto como um artigo de luxo. Um exemplo disso está em Campinas (SP), onde uma família especializada em restauração de carros antigos resgata essas memórias afetivas em projetos que podem ultrapassar os R$ 500 mil.
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No Dia Nacional do Fusca, celebrado nesta segunda-feira (20), o g1 visita a oficina para conhecer o trabalho de restauração que transforma fuscas antigos em obras de arte e que atrai clientes famosos de todo o Brasil, como Seu Jorge e Simone Mendes.
Os carros restaurados na metrópole também são exportados para fora do país e escondem, por trás da carcaça clássica, verdadeiras máquinas com motor potente, câmbio automático e ar-condicionado. Assista ao vídeo acima e veja mais detalhes à seguir.
Paixão pelas quatro rodas 🚗
Laércio, fundador da oficina especializada em customização de fusca e seu irmão
Arquivo Pessoal
A oficina foi fundada em 1983 por Laércio de Almeida, hoje com 65 anos. Sua história com os carros antigos começou cedo, aos 12 anos, quando ele precisou ajudar a família complementando a renda.
O primeiro emprego foi em uma tapeçaria de móveis, mas, com apenas um ano de experiência, surgiu a oportunidade de trabalhar com carros, sua grande paixão, ainda na infância.
“Eu comecei a trabalhar nessa época com os carros antigos. E lá fazendo tapeçaria, aprendi tudo lá. E minha paixão ali dentro realmente era karmann ghia e fusca. Era minha paixão, eu era apaixonado por esses carros”, conta o empresário.
Aos 16, ele conquistou seu primeiro carro, que não poderia ser outro. “Fiquei com ele em casa, guardado, só limpava. Tirei carta e depois comecei a andar com esse fusquinha. E fui arrumando ele e fiquei com esse fusquinha, um 63, azul pastel, muito lindo, era a minha paixão”, relembra Laércio.
Após 10 anos de experiência no ramo e sem condições de ingressar em uma faculdade, Laércio decidiu montar sua própria tapeçaria. O negócio ganhou um novo rumo quando um cliente pediu a restauração da capota de um fusca.
Oficina de Campinas (SP) é especializada em customização de carros antigos
Estevão Mamédio/g1
“Meu pai falou: ‘nossa vou fazer isso no meu’. Aí ele pegou fez no dele. Quando ele fez no dele, ele tava finalizando, veio um cliente pra fazer um serviço de tapeçaria lá e gostou do carro, se apaixonou. E aí não teve jeito… Meu pai precisando de dinheiro na época acabou vendendo o carro”, conta Bruno Bertoli, um dos filhos do empresário, que também trabalha na empresa.
Desde então, a oficina foi crescendo e começaram a surgir outras pessoas interessadas em restaurar seus veículos antigos. Segundo a família, em 2024, foram entregues mais de 150 carros restaurados. Ao todo, Bruno afirma que mais de 80% são de fuscas.
Hoje, Laércio conta com ajuda da esposa e dos dois filhos, além dos mais de 50 colaboradores. A oficina realiza customização para fora do país. Há clientes de Portugal, Alemanha, França, Itália e Estados Unidos. 🌍
Artigo de luxo? 🤑
Fusca da cantora Simone Mendes tem cor exclusiva e customização foi realizada em Campinas (SP)
Arquivo Pessoal/Trocar Autos Antigos
De acordo com Bertoli, as restaurações variam entre R$ 100 mil e podem custar até mais de R$ 500 mil, e duram, em média, de seis a oito meses. “Eu falo que é como construir uma casa. Você tem que ter as etapas certinhas e a gente depende que cada etapa seja bem feita para conseguir ficar bem executada”, explica.
Como o trabalho é personalizado e depende das exigências de cada cliente, os custos podem ser altos. O motor que é escolhido, a cor selecionada, a roda do veículo, se será conversível ou não. Tudo isso influencia no valor final da customização.
“Acho que o mais caro que a gente fez foi um fusca com motor de subaru, câmbio automático, também câmbio do subaru. Então o carro ficou um canhão, só que ficou moderno por ter um câmbio automático. O som não era um sonzinho, é o melhor som”, explica.
Os clientes, no geral, são empresários que já têm carros de luxos na garagem, mas buscam no fusca um hobby, um veículo para sair da rotina e passear com a família. Ele afirma, inclusive, que durante a pandemia houve uma grande procura por carros antigos, principalmente na restauração.
“Como a demanda é grande, acaba o mercado expandindo e até saturando um pouquinho de opções, e a margem, também o custo, elevando”. O processo de restauração faz tanto sucesso, que nas redes sociais a oficina tem vídeos que ultrapassam 45 milhões de visualizações.
A oficina também atraiu a atenção de famosos. A cantora Simone Mendes escolheu uma cor exclusiva para seu Fusca, enquanto o cantor Seu Jorge pediu uma tonalidade inspirada em sua pele. O portfólio também inclui projetos para jogadores da seleção brasileira e outros artistas renomados.
Customização podem chegar a R$ 500 mil em oficina de Campinas (SP)
Estevão Mamédio/g1
Amor que não cabe no porta-malas 💕
Por trás dos valores elevados, Bruno diz que os clientes que chegam à oficina trazem mais do que a vontade de ter um carro diferenciado: eles carregam memórias, histórias e paixões que não caberiam no porta-malas.
Um dos casos mais marcantes foi o de um filho que decidiu restaurar um fusca para presentear o pai, diagnosticado com Alzheimer. É que uma das coisas que o pai mais se lembrava era de um fusquinha que teve quando jovem.
Ele sempre contava a mesma história: que estava com a família, andando, carregado a panela e colocando tudo dentro do carro. O filho, então, decidiu comprar um fusca azul, do ano que o pai mencionava. A restauração foi realizada de acordo com a descrição que eram narradas.
“Ele colocou o nome de ‘Mundico’ no carro, que é o nome Raimundo, né? E foi muito emocionante. Todo mundo chorou. Chorou a família, porque ele conseguiu ter o que ele tava sempre falando, né? E falou que até o pai dele melhorou depois disso. Melhorou bastante. Então, eu acho que isso mexe muito com conexões”, relembra.
*Estagiária sob supervisão de Yasmin Castro.
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