Após tensão com EUA, novo avião com 111 deportados chega ao Brasil

Orlando SIERRA

Um segundo avião com brasileiros deportados dos Estados Unidos chegou nesta sexta-feira (7) ao Brasil, depois das críticas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva às autoridades americanas pelo “tratamento degradante” a outro contingente de brasileiros expulsos no fim de janeiro.

O voo vindo da Louisiana aterrissou em Fortaleza, no Ceará, por volta das 16h15.

As autoridades brasileiras confirmaram em uma nota oficial pela noite que 111 brasileiros viajaram na aeronave civil americana.

Estima-se que todos os deportados esgotaram os recursos legais para permanecerem nos Estados Unidos, disse uma fonte governamental à AFP.

“A Polícia Federal entrou no avião para retirar as algemas dos homens. Também havia crianças e mulheres no voo, sem algemas”, diz a nota do governo brasileiro.

Pela noite, uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) levou 97 dos 111 deportados de Fortaleza a Belo Horizonte, em Minas Gerais, onde aterrissaram por volta das 22h.

Outros 16 passageiros optaram por ficar em Fortaleza, segundo a fonte governamental.

Belo Horizonte é um destino habitual para voos de deportação dos Estados Unidos, mas a escala em Fortaleza foi planejada para reduzir o tempo de viagem até o território brasileiro e, portanto, o tempo em que os passageiros deveriam permanecer algemados.

Este é o segundo voo com brasileiros deportados desde que Donald Trump anunciou uma política agressiva de expulsão de imigrantes irregulares após assumir a Presidência dos Estados Unidos em 20 de janeiro.

O governo brasileiro disse nesta quinta-feira que o voo seria “objeto de avaliação com vistas à organização dos voos seguintes”.

O Brasil formou esta semana um “grupo de trabalho” com a embaixada dos Estados Unidos para garantir “o atendimento humanizado” dos deportados, informaram as autoridades.

A medida foi tomada depois que o governo brasileiro convocou o encarregado de negócios dos Estados Unidos em Brasília para pedir explicações pelo “tratamento degradante” a um primeiro contingente de 88 expulsos em 26 de janeiro, que foram algemados durante a viagem e desembarcaram em território brasileiro com as algemas postas.

Segundo testemunhos de passageiros do voo desta sexta, eles também foram privados de condições mínimas de conforto, como ar-condicionado, água e acesso aos banheiros.

Uma fonte do governo brasileiro explicou dias atrás à AFP que essa série de deportações não tem “relação direta” com a operação contra imigrantes iniciada por Trump. Os voos se inserem em outro contexto: um entendimento bilateral entre Brasil e Estados Unidos de 2017, que “continua em vigor”, disse a fonte.

Segundo números da Polícia Federal, 94 voos com mais de 7.500 deportados chegaram ao ao Brasil procedentes dos Estados Unidos entre 2020 e 2024.