Efeito Trump: especialistas dizem que mundo vive fase em que a globalização perde força


A recente eleição de Donald Trump como presidente do Estados Unidos é a última marca da nova fase que especialistas em relações internacionais chamam de unilateralismo: as fronteiras se fecham e a lei que vale é a do mais forte. Especialistas dizem que Trump está provocando mudanças históricas no comércio internacional
Especialistas ouvidos pelo Jornal Nacional dizem que o governo Trump está provocando mudanças históricas no comércio internacional – e com consequências imprevisíveis.
Tecnologia embarcada dos Estados Unidos. Sistema de freios europeu. Carroceria fabricada na China com aço do Brasil. A indústria automobilística é só um exemplo de como a vida que a gente leva parte de uma engrenagem global. Mas tem um sinal de curva adiante nos caminhos da economia mundial.
O mapa do mundo que a gente conhece foi desenhado a partir da Segunda Guerra Mundial. O desejo de paz na economia foi traduzido em uma abertura para trocas comerciais entre os países. Um período de muitas negociações multilaterais em torno do Acordo Geral de Tarifas e Comércio, de 1947, que mais tarde daria origem à Organização Mundial do Comércio. Os anos 1990 e 2000 são tidos pelos especialistas em relações internacionais como o auge da globalização. A partir dos anos 2010, esse processo de união dos mercados se desacelera.
Em 2026, a Inglaterra deixa a União Europeia com o Brexit. Em 2020, as cadeias globais de produção são quebradas com a pandemia. E a recente eleição de Trump é vista como a última marca dessa nova fase chamada de unilateralismo: as fronteiras se fecham e a lei que vale é a do mais forte.
“Cada país hoje procura defender o seu próprio interesse da melhor maneira possível. É a lei da selva hoje no comércio internacional. Lamentavelmente, essa é a tendência que está se delineando aí na relação internacional”, afirma Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington.
Efeito Trump: especialistas dizem que mundo vive fase em que a globalização perde força
Jornal Nacional/ Reprodução
Embaixador do Brasil em Washington quando o aço e o alumínio brasileiro foram taxados pelos Estados Unidos em 2002, Rubens Barbosa diz que o momento é ruim para o Brasil:
“Para o Brasil e todos os países em desenvolvimento. Você não tem como apelar, você não tem essa organização multilateral, e você não tem força para contra-atacar essas medidas. Você teve na União Europeia também medidas unilaterais de restrição à exportação de produtos agrícolas que eles consideram que vêm de áreas que foram desmatadas. Então, o ônus da prova sempre cabe ao país em desenvolvimento. O que é muito complicado”, diz.
Mas o que vemos pode não ser o retrocesso e, sim, a construção de uma nova globalização. É a opinião do professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas Rodrigo Cezar.
“É um processo que vai ter um prazo longo, que é o processo de desmembrar, o processo de enfraquecer as instituições internacionais, como a Organização Mundial do Comércio e como, por exemplo, a própria OMS. Só que a globalização em si não depende só disso, e ela vai continuar ainda que de maneira mais fraca. Quando os Estados Unidos consideraram aumentar tarifas contra outros parceiros econômicos, esses parceiros econômicos procuraram soluções em outros parceiros econômicos para além da sua região. Então, de uma forma até um pouco contraintuitiva, a ação de um determinado país contra a integração pode fazer com que outros países reajam aumentando a sua integração”, explica Rodrigo Fagundes Cezar.
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