SP: temporais triplicam em uma década; especialista revela motivo

Chuvas em São PauloReprodução/X

A frequência de chuvas extremas na Grande São Paulo triplicou em uma década, conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Comparando as décadas de 2001-2010 e 2011-2020, os dias com precipitações acima de 100 milímetros aumentaram de dois para sete a cada dez anos. 

Este aumento na intensidade e frequência das chuvas tem resultado em tragédias. A previsão da MetSul Meteorologia indica que chuvas fortes e temporais isolados continuarão frequentes em São Paulo ao longo desta semana. Mas o que explica esse aumento? Em entrevista ao Portal iG, Juliana Hermsdorff, Meteorologista da Squitter, detalhou os motivos deste acontecimento nas cidades paulistas.

Ao falar sobre o aumento das chuvas em São Paulo e em outras regiões do país, a meteorologista explicou que há uma relação direta com as mudanças climáticas, destacando o impacto dos fenômenos meteorológicos na precipitação.

“Em relação às chuvas, que têm aumentado significativamente em São Paulo e em outras regiões do país, tem uma ligação com as mudanças climáticas, já que, em função de tais mudanças, estamos tendo o aumento da frequência de fenômenos meteorológicos que ocasionam a chuva. Por exemplo: ciclones têm aumentado a frequência em latitudes médias (que é a latitude do Brasil), e com isso a gente tem influência em algumas partes do país em função da precipitação. A região Sudeste tem essa influência da passagem de frente fria e de ciclones. Mas, ao mesmo tempo em que se observa o aumento da precipitação em alguns lugares, principalmente o aumento da precipitação em um curto período de tempo, a gente observa também alguns lugares com grandes déficits de chuva, ou seja, grandes períodos sem chuva.”

A especialista também ressaltou que o volume excessivo de chuva em pouco tempo tem sido uma das principais características das tempestades mais recentes, e que fatores como urbanização e ilhas de calor influenciam diretamente na formação desses fenômenos extremos.

“Então acontece muita chuva em um curto período de tempo. E isso aumenta a precipitação de uma forma mais global. Em São Paulo, a gente tem influência dessa questão do aumento desses fenômenos meteorológicos (frequência que ocasiona chuvas), além também da questão da urbanização, que reflete diretamente nas ilhas de calor. A gente tem o maior aquecimento dessas grandes metrópoles, e isso favorece as chuvas de verão, que geralmente acontecem e ganham um ingrediente a mais, que é o calor. Então a chuva se intensifica e temos a maior ocorrência de raios, granizos e ventos mais intensos por conta dessas correntes que se formam dentro dessas nuvens. Então, quanto mais quente, mais fortes são essas correntes, que podem sair dessas nuvens e ter rajadas de vento muito intensas.”

A meteorologista ainda fez uma previsão sobre a frequência e a intensidade desses temporais nos próximos anos em São Paulo, alertando para um possível aumento dos eventos extremos no longo prazo.

“Nos próximos anos, a gente pode ter o aumento dessa frequência desses eventos extremos, mas estamos falando a longo prazo. Não é no próximo ano, ou daqui a cinco anos, mas existem estudos que indicam que gradualmente isso vai acontecer com mais frequência, tanto as precipitações mais intensas (em um curto período de tempo), quanto até as secas.”

Chuvas intensas 

No final da terça-feira, áreas de instabilidade provocaram chuvas intensas no litoral paulista, causando alagamentos e transtornos em diversas localidades. Dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) registraram acumulados de 161 mm em Bertioga, 144 mm em Santos, 141 mm no Guarujá, 125 mm em São Vicente e 92 mm em Praia Grande.

Em Santos, os alagamentos tornaram algumas vias intransitáveis, dificultando o retorno dos moradores às suas residências. Na capital paulista, uma forte chuva no final da terça-feira resultou na morte de uma mulher de aproximadamente 40 anos na zona norte da cidade. Ela ficou presa em seu veículo durante uma inundação na Freguesia do Ó, após o transbordamento do Ribeirão Verde.

Chuvas recorrentes

Em fevereiro de 2023, o litoral norte de São Paulo enfrentou as chuvas mais intensas já registradas no Brasil, com um acumulado histórico de 682 mm em apenas 24 horas. O município mais afetado foi São Sebastião, onde bairros inteiros foram soterrados, resultando em 64 mortes e milhares de desabrigados. O desastre levou ao maior deslocamento aéreo já realizado pela Defesa Civil do estado, além de um longo período de reconstrução da infraestrutura local.

Chuvas em São SebastiãoReprodução/Governo de SP

Em 2022, o estado de São Paulo também foi palco de fortes temporais, especialmente na região metropolitana e no interior. As chuvas intensas provocaram deslizamentos, alagamentos e desmoronamentos, causando a morte de sete crianças e 14 adultos. Mais de 500 mil famílias foram afetadas, sendo que muitas perderam suas casas e precisaram ser acolhidas em abrigos temporários.

Chuvas no litoral paulista em 2020Reprodução/Governo de SP

No litoral paulista, em 2020, a situação não foi diferente. Entre os dias 2 e 3 de março daquele ano, um volume superior a 300 mm de chuva atingiu cidades como Guarujá, Santos e São Vicente. O deslizamento de terra na comunidade Morro do Macaco Molhado, no Guarujá, foi um dos episódios mais trágicos, deixando pelo menos 44 mortos e dezenas de desaparecidos. A força das águas comprometeu a estrutura de rodovias e levou dias para que os acessos fossem restabelecidos.

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