Saiba quem era o instrutor de voo que morreu após avião cair em aldeia indígena do litoral de SP


Matheus Henrique Gomes de Toledo, de 25 anos, morreu no local. Acidente aéreo ocorreu na aldeia tupi-guarani Porungawa Dju, em Peruíbe (SP). Matheus Henrique Gomes de Toledo, de 25 anos, era instrutor de voo em Itanhaém (SP)
Arquivo Pessoal
O instrutor de voo que morreu após um avião de pequeno porte cair na aldeia indígena Awa Porangawa Dju, em Peruíbe, no litoral de São Paulo, foi identificado como Matheus Henrique Gomes de Toledo, de 25 anos. Conforme apurado pelo g1 nesta segunda-feira (10), ele era formado como administrador de empresas e técnico em química.
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O acidente aéreo ocorreu por volta das 17h50 de domingo (9), na Terra Indígena Piaçaguera, em uma área que faz limite com Itanhaém. O avião era de modelo Cessna 150J, do Aeroclube da cidade, prefixo PT AKY e e realizava um voo de instrução. A causa será apurada pelas autoridades.
Imagens que circulam nas redes sociais mostram a aeronave rodopiando no ar antes de atingir a aldeia indígena (veja abaixo).
Avião rodopiou no ar antes de cair em cima de aldeia indígena em Peruíbe (SP)
Reprodução
A mãe de Matheus, a advogada Tais Elena de Souza Gomes, contou que o filho era apaixonado por aviões desde a infância, mas chegou a se afastar do sonho por receio do investimento financeiro necessário. Desta forma, o rapaz primeiro se formou como técnico em Química e fez faculdade de Administração de Empresas.
“Desde pequenininho, ele sempre olhava os aviões lá no alto e pensava que podia ser ele pilotando, tinha essa vontade. Mas o Matheus era muito cuidadoso, se preocupava comigo, pensando que não queria dar gasto para mim, que era muito caro”, afirmou a advogada.
Quando Matheus tomou coragem de falar sobre o sonho para a família, Tais deu todo o apoio necessário para que ele iniciasse os estudos. “Ele disse: ‘Mãe, é caro’. Mas eu falei que não importava. A gente dá um jeito, parcela, financia, qualquer coisa. Mas nós íamos realizar o sonho dele”, relatou.
Mudança de vida
Matheus e a família são de Santa Isabel (SP), mas se mudaram para Itanhaém por conta do sonho do jovem. De acordo com Tais, o filho se mudou em 2023 para fazer cursos e morar no alojamento do aeroclube da cidade.
Meses depois, a advogada também foi para a cidade junto com o marido e a sogra. “Coração de mãe fica apertado por estar longe. Eu falei para o meu esposo: ‘Poxa, a gente sempre quis morar na praia e o Matheus também. Vamos para lá?’. Foi aí que eu trouxe a minha vida inteira: profissional, pessoal, minha família”, relembrou.
Em Itanhaém, Matheus se tornou piloto de apoio do Aeroclube de Itanhaém após fazer diversos cursos e provas. Segundo a mãe, ele trabalhava mais de 15 horas por dia e inicialmente não recebia salário.
“Na expectativa de conseguir entrar no quadro de funcionários e começar a dar a instrução para outros alunos, acumulando suas horas de voo. Porque um determinado número de horas de voo possibilita a pessoa tentar ingressar numa companhia aérea. Esse era o objetivo do Matheus”, disse Tais.
Primeiro voo da vida de Matheus Henrique ocorreu em abril de 2018
Arquivo pessoal
Segundo ela, o filho queria acumular 500 horas de voo para tentar uma seleção de companhia aérea e, com isso, fazer outros cursos para pilotar aeronaves maiores. Por isso, ele trabalhou aproximadamente um ano até ingressar no quadro de funcionários como instrutor de voo.
“Infelizmente encerra a carreira dele com 300 horas de voo, mais ou menos. O sonho teve fim. Nós estamos desolados, arrasados”, relatou a mãe.
Características
Matheus foi descrito como um jovem trabalhador, estudioso e inocente. “Um menino que luta pelos objetivos dele e eu apenas dei asas aos sonhos dele”, afirmou a mãe.
Filho único, Matheus era uma pessoa amorosa e cuidadosa com a família. “Foi a única pérola que eu coloquei nessa vida para ser feliz, para atingir os objetivos dele […]. É o amor da minha vida, o meu melhor amigo, confidente”, relatou Tais.
Matheus Henrique era muito amoroso com a família
Arquivo pessoal
Acidente
A mãe de Matheus acredita que o piloto tenha colaborado para ajudar o aluno dele, que também estava na aeronave e sobreviveu. “Meu filho foi um herói. Ele salvou o aluno dele, que estava viajando e sobreviveu”, disse a mulher.
Segundo Tais, o piloto era ótimo em pousos. “Era quase perito, pousava o avião sem tranco”, afirmou. Por isso, a família acredita que o acidente foi resultado de alguma falha mecânica. “Espero sinceramente que a Anac [Agência Nacional de Aviação Civil] faça a investigação do que houve de fato. Posso quase apostar que não houve falha humana”, enfatizou.
Bombeiros registraram destroços do avião que caiu em uma aldeia de Peruíbe (SP)
Corpo de Bombeiros SP
Para ela, o sobrevivente poderá ser uma forte testemunha do talento de Matheus enquanto piloto. “Vai poder contar o que houve lá em cima, o que aconteceu para que chegasse ao ponto de ter um pouso forçado dessa natureza. Não é uma coisa normal, ninguém pousa forçado manualmente porque quer”, finalizou.
Em nota, a assessoria do Hospital Regional Jorge Rossmann informou que o paciente, de 24 anos, possui quadro de saúde estável e está recebendo o atendimento médico necessário.
Destroços
Em vídeo feito pelo Corpo de Bombeiros, é possível ver a aeronave destruída após a queda. As imagens mostram parte do painel do avião, bem como pneu, poltronas e diversas partes da carcaça da aeronave espalhadas pela mata (assista abaixo).
Vídeo mostra destroços de avião que caiu em aldeia no litoral de SP
O caso
A aeronave emitiu um alerta às 17h42 e, segundo o Corpo de Bombeiros, caiu por volta das 17h50, na divisa com Itanhaém (SP). O resgate do sobrevivente durou aproximadamente três horas.
O Corpo de Bombeiros informou ter deslocado 15 agentes em cinco viaturas para a ocorrência. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgente (Samu), o Departamento Municipal de Defesa Civil de Peruíbe e a PM também foram acionados.
Segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o avião atingiu a aldeia Awa Porangawa Dju, terra Indígena Piaçaguera. Nenhum indígena se feriu, mas as árvores que caíram com o acidente obstruíram a estrada de acesso às moradias.
Em nota, a Força Aérea Brasileira afirmou que investigadores do Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA IV), órgão regional do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), localizado em São Paulo (SP), foram acionados para a ‘Ação Inicial’ da ocorrência envolvendo a aeronave de matrícula PT-AKY.
Durante esta etapa, de acordo com a FAB, são aplicadas “técnicas específicas por profissionais qualificados e credenciados, responsáveis pela coleta e confirmação de dados, preservação dos elementos, verificação inicial dos danos causados à aeronave ou pela aeronave, e pelo levantamento de outras informações necessárias à investigação”.
Avião cai em aldeia indígena e deixa um morto e um ferido no litoral de SP
g1
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