PIB da Argentina recua 1,7% em 2024, primeiro ano de Milei


No quarto trimestre do ano passado, a atividade do país avançou 1,4% em relação aos três meses anteriores. Javier Milei no G20 no Rio
Pablo Porciuncula/AFP
O Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina recuou 1,7% em 2024, informou o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) do país nesta quarta-feira (19). Esse é o primeiro resultado anual da economia argentina durante o governo do presidente Javier Milei.
A queda da atividade econômica do país no ano passado é reflexo de uma política dura de cortes de gastos adotado pelo presidente, batizada de “Plano Motosserra”, que tem como principal objetivo reduzir um problema crônico da Argentina: a inflação elevada, que batia 211,4% no acumulado em 12 meses até o fim de 2023, quando Milei assumiu. (entenda mais abaixo)
Argentina de Milei: g1 mostra o que mudou na vida e na economia do país, um ano após o Plano Motosserra
Mesmo com a contração da atividade, porém, a economia argentina dá sinais de que está recuperando algum fôlego depois de meses mais desafiadores para a população.
O PIB do quarto trimestre de 2024 cresceu 1,4% em relação ao trimestre anterior. E no terceiro trimestre a atividade já tinha registrado uma alta, de 4,3%, em relação ao segundo.
Essas altas no segundo semestre do ano interromperam uma recessão técnica que o país vivia — termo que indica quando uma economia já registrou pelo menos dois trimestres seguidos de contração econômica. No primeiro trimestre do ano, o recuo foi de 1,4% e no segundo, de 1,7%.
Em outubro do ano passado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou que a Argentina registraria uma queda de 3,5% em seu PIB no ano. Em contrapartida, a expectativa é de uma recuperação e alta de 5,0% em 2025.
Argentina de Milei: o que mudou um ano após o Plano Motosserra
O que fez a economia da Argentina recuar em 2024?
Javier Milei avisou no dia de sua posse como presidente, em 10 de dezembro de 2023, que a Argentina atravessaria um período difícil e com impactos negativos para a atividade logo no início de seu mandato.
Em seu discurso de posse, Milei disse que “não há alternativa ao ajuste e não há alternativa ao choque. Naturalmente, isso impactará de modo negativo o nível da atividade, o emprego, os salários reais, a quantidade de pobres e indigentes”.
Com ajustes e choques, o presidente se referia aos cortes que seriam promovidos, poucos dias depois, pelo seu Plano Motosserra.
Entre as principais medidas, o pacote:
Eliminou os subsídios governamentais para serviços básicos, como luz, água e transportes públicos;
Eliminou uma lei que limitava os aumentos de preços em produtos da cesta básica nos supermercados;
Congelou obras públicas;
Demitiu milhares de funcionários públicos;
Diminuiu o reajuste dos salários, aposentadorias e pensões;
Iniciou estudos e processos de desestatização e privatização de empresas estatais;
Abriu a economia da Argentina para mais exportações e importações.
O maior impacto veio do fim dos subsídios às contas básicas e do controle de preços, que fizeram explodir a inflação em um primeiro momento. Em novembro de 2023, o índice foi de 12,8%, já altíssimo. No mês seguinte, primeiro de vigência das medidas, passou a 25,5%.
Em março de 2024, a inflação argentina chegou ao pico de 287,9% na janela de 12 meses.
“A eliminação dos subsídios de luz e gás geraram um aumento muito grande em contas essenciais para famílias e comerciantes. Isso gerou um repasse nos preços e pressão sobre toda a inflação”, explica Carlos Bermani, professor de economia da Universidade de Buenos Aires (UBA).
Ao mesmo tempo, o governo Milei congelou os reajustes do salário mínimo e paralisou obras públicas. Os custos subiram, a economia se contraiu e o desemprego subiu. Com isso, a pobreza no país disparou 11,2 pontos percentuais e passou a atingir 52,9% da população até o primeiro semestre de 2024, segundo os dados mais recentes do Indec.
Os preços altos e com menos subsídios causaram uma redução forçada no consumo do país nos primeiros meses de governo, o que explica a retração da economia.
Milei também garantiu, porém, que o choque econômico seria o “último mal-estar antes da reconstrução da Argentina”.
Com o choque inicial das medidas, o consumo menor fez com que a inflação fosse se acomodando. A partir de abril, a inflação argentina deixou de ter dois dígitos mensais, até chegar à casa dos 2%. Encerrou 2024 com uma taxa anual de 117,8%.
O controle da inflação promoveu o início de uma estabilização da economia, que se traduz em maior confiança dos consumidores argentinos.
Em dezembro do ano passado, o g1 foi à Argentina e falou com a população local para entender suas percepções sobre os rumos da economia. Apesar de todos os relatos das dificuldades econômicas enfrentadas em 2024, há um sentimento de otimismo por conta da redução da inflação, que também aumenta a esperança em uma retomada da atividade,
A motorista de Uber Carolina de Maio contou que “tudo mudou muito rápido, por isso os primeiros meses foram muito difíceis. Mas eu estou otimista”.
“Aos poucos, tudo está se normalizando, as pessoas estão perdendo o medo da inflação e se atrevendo a gastar um pouco mais. Vejo que a minha vida vai, aos poucos, prosperando mais”.
Para 2025, segundo o analista financeiro Luis de Dominicis, os desafios de Milei são conseguir atrair mais investimentos (principalmente estrangeiros) para o país e conseguir manter sua popularidade entre a população.
Milei sabe que, se a economia não concluir seu trajeto de recuperação em 2025, “a paciência e confiança das pessoas poderia acabar”, lembra Dominicis.
A Argentina tem eleições para escolher novos deputados e senadores em 2025. Se o governo perder popularidade até lá, a composição do Congresso argentino pode atrapalhar os planos e travar a aprovação de propostas essenciais para os planos de Milei.
Para Dominicis, a queda da inflação ajuda a proporcionar mais estabilidade e confiança para que a população volte a consumir, mesmo que aos poucos.
Já os cortes de gastos devem ser recompensados com a confiança dos investidores, que já estão colocando dinheiro na Argentina.
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