Dia Mundial da Água: em 2 anos, noroeste paulista registra ao menos 13 casos de mortandade de peixes no Rio Tietê


Além dos prejuízos econômicos, a água esverdeada coloca em risco a saúde pública. Autoridades locais recomendam que a população evite entrar no rio e consumir peixes devido à contaminação. Noroeste paulista registra ao menos 12 casos de mortandade de peixes no Rio Tietê nos últimos dois anos
Rogério Pedrozo/TV TEM
A mortandade de peixes no Rio Tietê, que constantemente apresenta coloração esverdeada nas regiões de São José do Rio Preto (SP) e Araçatuba (SP), preocupa pescadores e turistas que frequentam esses locais. Além de colocar em risco a fauna, flora e a saúde da população, pode comprometer o sistema de abastecimento hídrico a longo prazo. O g1 fez um levantamento que mostrou que, em dois anos, foram registrados ao menos 13 casos desse tipo no noroeste paulista.
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No Dia Mundial da Água, celebrado neste sábado (22), questões como a poluição do rio e a preservação dos recursos hídricos são apontadas como os principais desafios para os defensores do meio ambiente.
Em Ubarana (SP), a água verde no Ribeirão Fartura, um braço do Rio Tietê, causou um prejuízo de cerca de R$ 1 milhão para piscicultores, que, desde terça-feira (18), tentam se recuperar dos danos sofridos. Além disso, eles estão tendo que enterrar os peixes por meios próprios e alegam não ter nenhum apoio do poder público.
Peixes aparecem mortos às margens do Rio Tietê em Ubarana (SP)
Rogério Pedrozo/TV TEM
Em entrevista à TV TEM, Nelson Benedito Moreira, criador de tilápias, lamentou a perda de cerca de 30 toneladas do peixe, que morreram nos tanques-rede. Inconformado, ele luta para tentar descobrir o que causou a mortandade.
“Eu me sinto muito triste e desolado porque como é que vou continuar trabalhando? Os recursos que eu tinha estavam aí, eram peixes que seriam vendidos para novamente fazer uma nova safra. Se foi tudo e não tem de onde se tirar mais nada”, disse Nelson.
Além dos prejuízos econômicos, a situação coloca em risco a saúde pública. Diante desse cenário, as autoridades locais recomendam que a população evite entrar na água e consumir peixes do rio devido à contaminação.
Piscicultores de Ubarana (SP) perdem produção de tilápia
Rogério Pedrozo/TV TEM
Eliezer Padovani, diretor de Meio Ambiente de Ubarana, destaca que os efeitos vão além da piscicultura e afetam o turismo regional.
“Além de afetar os piscicultores, afeta a economia do nosso município, por sermos um município de interesse turístico. Não está atraindo turistas aqui”, afirma Eliezer.
Piscicultores estimam prejuízo de R$ 1 milhão após mortandade de peixes em Ubarana
O futuro da água passa pela conscientização, fiscalização e implementação de políticas ambientais eficazes, para que os rios voltem a ser fontes de vida e bem-estar para as comunidades que deles dependem.
Em Sabino (SP), município que também dependente do turismo gerado pelo Rio Tietê, a situação é semelhante. O diretor de Meio Ambiente da cidade, Luis Eduardo Gonçalves, observou a diminuição do fluxo de turistas devido à má qualidade da água.
“Antigamente, tinha mais de 50 ônibus que vinham de fora, lotavam o comércio, os mercados e os vendedores ambulantes”, explica.
Noroeste paulista registra ao menos 12 casos de mortandade de peixes no Rio Tietê
Reprodução/TV TEM
Já em Buritama (SP), no dia 15 de março, arraias e camarões apareceram mortos às margens do Rio Tietê. Em um vídeo, é possível ver uma grande quantidade de arraias de água doce, do gênero Potamotrygon, além de milhares de camarões e peixes boiando (assista abaixo).
Arraias e camarões apareceram mortos às margens do Rio Tietê em Buritama
Alta incidência
Um levantamento feito pelo g1 apontou que, em 2024, foram registrados ao menos sete episódios de coloração verde no Tietê, na região noroeste paulista. Os municípios afetados são: Zacarias , Sales , Guaraci, Novo Horizonte e Glicério.
Em 2025, a situação piorou: foram seis ocorrências até o dia 21 de março. Os registros ocorreram em Adolfo, Buritama, Barbosa , Glicério, Sales e Novo Horizonte.
O número crescente de episódios desse tipo acende um alerta para a gravidade do problema e a necessidade urgente de colocar medidas efetivas em prática.
Especialistas e órgãos ambientais afirmam que a água com coloração verde, densa e com mau cheiro é ocasionada pelo excesso de nutrientes que servem como “alimento” para as algas e implicam a rápida proliferação delas, afetando a biodiversidade aquática (entenda abaixo).
Origem do problema
A origem do problema é complexa e envolve várias fontes de poluição. Segundo Wagner de Paiva Casadei, membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Tietê Batalha, a agricultura é uma das principais responsáveis pelo problema.
Fertilizantes utilizados nas lavouras se dispersam durante as chuvas e chegam ao rio. Outro fator é o esgoto domésticos, que, muitas vezes, é escoado irregularmente e chega até os mananciais.
“A origem da eutrofização é o excesso de nutrientes na água, que vêm da agricultura”, explica Casadei.
O excesso de fósforo e nitrogênio, provenientes de fertilizantes e esgoto, é um dos principais fatores que podem ter resultado na proliferação descontrolada de algas, que consomem o oxigênio da água, matando a fauna aquática e prejudicando o ecossistema, causando um fenômeno conhecido como “maré vermelha”.
Para Wagner, o problema com a coloração das águas tem deixado de acontecer apenas em rios e começado a afetar os mares também
Reprodução/TV TEM
Questionada, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) informou que monitora o Rio Tietê e que constatou um aumento significativo nas infrações ambientais, com quase mil inspeções realizadas entre os anos de 2021 e 2025.
O diretor de Qualidade Ambiental do órgão, Nelson Menegon Junior, ressaltou, em entrevista à TV TEM, a importância de controlar a carga de fósforo e outros nutrientes para evitar o agravamento da situação.
“O principal contaminante é o fósforo, que vem tanto de esgoto doméstico quanto de fertilizantes agrícolas”, alerta Nelson.
Para Nelson, é importante controlar a carga de fósforo e outros nutrientes na água
Reprodução/TV TEM
Além das ações fiscais e de monitoramento, especialistas defendem a implementação de soluções que resultem em bons resultados a longo prazo, como o tratamento adequado de esgoto e o controle rigoroso do uso de fertilizantes.
O subsecretário de Recursos Hídricos de São Paulo, Cristiano Kenji Iwai, destaca a importância de iniciativas como o programa Integra Tietê, que visa reduzir a carga de nutrientes na água.
“Estamos trabalhando com ações de longo prazo para universalizar o tratamento de esgoto e, com isso, melhorar a qualidade da água no estado”, afirma Iwai.
Segundo Wagner, a situação do rio no interior de São Paulo é o reflexo de um problema global. Com o aumento da poluição, não apenas os rios, mas também os mares podem sofrer as consequências da eutrofização.
Aguapés tomam conta do Rio Tietê e prejudicam turismo e pesca no interior de SP
Reprodução/TV TEM
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