Microplásticos são achados em tartarugas de água doce amazônicas

Microplásticos são encontrados em tartarugas de água doce amazônicas.Andrea Bezerra e Priscila Miorando/Reprodução

Pesquisadoras da Universidade Federal do Pará (UFPA) identificaram a presença de resíduos plásticos, incluindo microplásticos e celulose artificial, em quelônios de rios amazônicos.

A análise, realizada por cientistas do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aquática e Pesca em animais coletados no Rio Iriri, afluente do Xingu, e em regiões como o arquipélago do Marajó, demonstrou que 20% dos tracajás (Podocnemis unifilis) e 60% dos muçuãs (Kinosternon scorpioides) apresentaram contaminação.

O estudo, publicado na revista internacional Water, Air, & Soil Pollution, tem como objetivo principal comprovar que essas espécies já estão sendo afetadas pelos resíduos advindos da lavagem de roupas e materiais de pesca, mesmo em áreas de proteção integral.

20% dos tracajás e 60% dos muçuãs apresentaram contaminação.Andrea Bezerra e Priscila Miorando/Reprodução

Os animais analisados foram coletados em diferentes locais, inclusive dentro da Estação Ecológica Terra do Meio, uma área de proteção integral.

Segundo a autora, Ana Laura Santos, “a gente acabou encontrando a presença de polímeros artificiais (celulose artificial e microplástico) em 20% dos tracajás analisados”, evidenciando que, mesmo em regiões consideradas preservadas, a contaminação ocorre.

No caso dos muçuãs, a taxa de resíduos identificados foi significativamente maior, o que reforça a necessidade de investigar a origem e a disseminação desses poluentes nos ecossistemas aquáticos.

Impactos na saúde e na alimentação

A presença dos resíduos plásticos, especialmente o “lixo têxtil” oriundo da lavagem de roupas de fibras sintéticas, levanta preocupações quanto à segurança alimentar das comunidades que ingerem a carne desses animais.

Tamires de Oliveira, coautora do estudo, destacou que esses resultados podem indicar mudanças nos hábitos de consumo e no descarte inadequado de materiais plásticos.

 Ela alertou que “esses resultados podem indicar uma mudança nos hábitos das populações”, reforçando a ligação entre a contaminação dos ecossistemas e os riscos para a saúde humana, especialmente em comunidades tradicionais.

O estudo contou com colaborações da UFPA, Ufra, Ufopa e Universidade de Florença, na Itália.Andrea Bezerra e Priscila Miorando/Reprodução

Desafios e perspectivas para o futuro

A pesquisa enfatiza a importância do investimento em saneamento básico e em programas de educação ambiental para reduzir a entrada de resíduos nos rios. No arquipélago do Marajó, onde apenas uma pequena fração do esgoto é tratada, o lançamento direto de esgoto doméstico contribui para a disseminação dos polímeros.

Os pesquisadores ressaltam que medidas educativas e políticas de controle do consumo de plásticos são fundamentais para preservar não só os quelônios, mas também os ecossistemas e a segurança alimentar das populações ribeirinhas.

O estudo contou com a colaboração de instituições nacionais, como Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), e internacionais, como Universidade de Florença, na Itália, evidenciando a relevância do tema em um contexto global.

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