Como os pais podem ajudar na experiência e segurança digital dos filhos


Reportagem do Fantástico conversa com especialista sobre como evitar que menores caiam em crimes virtuais. Discord
Discord é uma plataforma de mensagens popular entre os jovens e jogadores de videogame — Foto: Ivan Radic/Flickr
Policiais e promotores de diferentes regiões do país estão se infiltrando em comunidades online — especialmente no Discord — para combater crimes brutais contra menores de idade. Entre as violações mais comuns estão a chantagem com fotos íntimas, indução à automutilação, estupro virtual e incitação ao suicídio.
O Fantástico deste domingo (6) mostrou como essas operações vêm sendo conduzidas para proteger as vítimas, alertar os pais e levar os agressores à Justiça. Assista no vídeo mais abaixo.
Na reportagem, Hugo Monteiro Ferreira, professor do Departamento de Educação da Universidade Federal Rural de Pernambuco, explica como os pais podem ajudar na experiência (e segurança) digital dos filhos. Veja abaixo algumas dicas.
💡 Converse com frequência
Reserve ao menos um momento por semana para dialogar com seu filho sobre o que ele vê e por onde circula na internet.
“A primeira forma de você se certificar de que seus filhos estão vivendo uma experiência virtual segura, saudável, é você dialogar com seu filho. É você ter pelo menos uma vez na semana uma conversa mínima que seja, para você saber o que é que ele vê, por onde ele circula”, o professor.
💡 Reforce cuidados com estranhos no ambiente virtual
Ensine seus filhos a não interagir com desconhecidos online, da mesma forma que faria no mundo real.
“A gente tem, inclusive, o hábito de dizer, não converse com estranhos. Essa mesma lógica se aplica para a plataforma Discord, para qualquer relação virtual”, diz o especialista.
💡 Respeite os limites de idade para uso de telas
Siga as recomendações médicas sobre o uso de dispositivos por crianças e adolescentes.
“Criança até 7 anos não deve utilizar telas. Essa é uma orientação da Associação Brasileira de Pediatria há muito tempo. Dos 7 aos 13 anos, por exemplo, usar para funções pedagógicas, usar com bastante acompanhamento, sem deixar que seu filho ou sua filha passem a viver uma experiência contínua com as telas. Eu sugiro que liberar mesmo a partir dos 16 anos. Mas liberar mesmo, nesse caso, não significa liberar para tudo”, afirma Hugo Monteiro Ferreira.
Veja iniciativas que monitoram a internet para evitar abusos contra crianças e adolescentes
O que leva à radicalização de jovens na internet?
“A radicalização dá a eles um sentido de vida ou de morte que até, então, eles não tinham”. O alerta vem do procurador que coordena o Núcleo de Prevenção à Violência Extrema, fundado há um ano pelo Ministério Público Gaúcho, Fábio Costa Pereira.
“Este sujeito vai deixando uma série de rastros, uma série de sinais”, explica.
De acordo com o projeto, há três causas principais para o isolamento e a radicalização dos adolescentes:
o excesso de exposição às telas;
problemas nas famílias;
e bullying.
Desde que o núcleo foi criado, há pouco mais de um ano, já foram identificados 178 adolescentes e jovens com tendência à radicalização ou à violência extrema aqui no Rio Grande do Sul.
Uma jovem do interior gaúcho relata a saída para o isolamento e o bullying foi ficar fechada em seu quarto com a tecnologia:
“Antes, quando eu era menor, eram só piadinhas, com o tempo começou a ir pra agressões físicas, abusos, roubos, estragavam minhas coisas”.
“Era como se fosse uma família muito grande, que entendia tudo que eu falava, sabe? Induziam a automutilação. Induziam a maus-tratos. Induziam a pornografia”, conta a jovem.
A mãe percebeu que algo estava errado. “E eu perguntava, mas o que é que está havendo? E ela dizia nada e não contava. Só que eu não tinha noção de que as coisas que ela estava passando não era só bullying, era assédio, era tortura”, diz a a responsável, em anonimato.
O Ministério Público chegou a esse caso quando passou a monitorar as redes sociais de um jovem, que fazia apologia à violência na internet, com quem ela falava. A promotoria descobriu ainda que um pedófilo também mantinha contato com ela. Os dois assediavam a vítima e foram presos.
A jovem foi acolhida e segue sendo monitorada pelo Ministério Público. Ela se reaproximou da família e, atualmente, aos 18 anos, faz faculdade de psicologia.
Falta de regulamentação das redes sociais
No Brasil, um projeto de lei que nasceu no Senado com o objetivo de regulamentar as redes sociais enfrentou forte oposição e acabou engavetado na Câmara dos Deputados em abril do ano passado. Agora, o governo federal pretende apresentar uma nova proposta nos próximos meses.
Enquanto não há uma legislação que obrigue as plataformas a agir de forma mais incisiva, o trabalho de proteger crianças e adolescentes na internet recai sobre as famílias e as autoridades.
Um exemplo é o caso de uma menina de apenas 12 anos, resgatada pela polícia de São Paulo enquanto era vítima de um estupro virtual. “Tia, sério, você é um anjo na minha vida. Se não fosse você, eu ainda estaria sofrendo tudo que eu sofria na web e não ia conseguir sair daquele inferno”, disse a garota à delegada responsável pelo caso.
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