Por que Lula não critica Galípolo no BC mesmo com juros altos?

Os juros estão cada vez maiores, por que Lula não critica Galípolo no BC? – Foto: Washington Costa/ MF

Mesmo com a elevação da taxa de juros para 14,75% na última semana — o patamar mais alto desde 2006 em termos reais —, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem evitado críticas públicas a Gabriel Galípolo, novo presidente do Banco Central indicado por seu governo. A postura contrasta com os ataques frequentes ao antecessor, Roberto Campos Neto, e levanta a pergunta: por que Lula não critica Galípolo no BC?

Galípolo é nome de confiança do governo

Gabriel Galípolo foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda sob o comando de Fernando Haddad (PT) antes de assumir o cargo de diretor de Política Monetária no Banco Central. Sua indicação à presidência do BC, confirmada em 2025, foi articulada dentro do núcleo duro do governo, o que faz dele um nome de confiança do Planalto e um dos motivos por que Lula não critica Galípolo no BC.

“Ele é uma pessoa da confiança do Ministro da Fazenda e do presidente da República, se não não estaria onde está. Agora ele que sabe dos constrangimentos que ele herdou, como eu sei dos constrangimentos que eu herdei”, comentou Haddad em entrevista ao Uol nesta segunda-feira (12).

De acordo com as falas de Haddad, um dos possíveis motivos por que Lula não critica Galípolo no BC é o cenário desfavorável que o atual presidente encontrou após a saída de seu antecessor no cargo, Roberto Campos Neto,

“A passagem no Banco Central foi tão complexa quanto no Ministério da Fazenda. Está sendo complexa. Tanto em relação a juros, quanto em relação a desancoragem da expectativa, quanto em relação a regulação”, afirmou ao Uol.

Campos Neto era o culpado por juros

Durante os dois primeiros anos de seu mandato, o presidente Lula atacou publicamente a atuação de Campos Neto no Banco Central. O economista ocupou o cargo por quatro anos após indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Um dos exemplos de críticas de Lula a Campos Neto aconteceu após seis meses de governo, em entrevista à Rádio Gaúcha.

“Agora, você tem um cidadão que me parece que não entende absolutamente nada de país. Não entende nada de povo, não tem sentimento com o sofrimento do povo e mantém uma taxa de juros para atender aos interesses de quem? A quem esse cidadão está servindo nesse momento?”, acusou Lula em entrevista à Rádio Gaúcha em junho de 2023.

Por diversas vezes, Campos Neto destacou que as decisões sobre a taxa de juros são feitas em colegiado, seguindo orientações elaboradas pela equipe técnica. Atualmente a taxa de juros está maior do que todo o período de Campos Neto, então há desconfiança sobre por que Lula não critica Galípolo no BC.

Roberto Campos Neto era alvo constante do presidente da República, por que Lula não critica Galípolo no BC – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mesmo assim, insatisfeito com a política monetária da autarquia, Lula manteve os comentários negativos direcionados ao então presidente do Banco Central até depois do fim do mandato de Campos Neto, em dezembro de 2022.

“Acho que o Roberto Campos foi um cidadão que teve um comportamento anti-Brasil no Banco Central. Ele era um cara que falava mal do Brasil o tempo inteiro, passava descrédito para os empresários no exterior. Ele foi se comprometendo e aumentando a taxa de juros”, disse Lula em encontro com jornalistas, em fevereiro de 2025.

Banco Central com Galípolo aumenta juros

Na época do comentário de Lula sobre Campos Neto, Gabriel Galípolo estava à frente do Banco Central e já havia promovido um aumento na taxa de juros. Em sua gestão, até o momento, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reuniu em três ocasiões para decidir sobre a taxa básica de juros. Assim, sob nova gestão, o BC elevou o juros de 12,25% para 14,75%, o maior patamar desde 2006.

No café com jornalista de fevereiro, o presidente afirmou que é preciso calma com o novo trabalho e esse é um dos motivos por que Lula não critica Galípolo.

“O presidente do Banco Central não pode dar um cavalo de pau, num mar revolto, de uma hora pra outra. Já estava praticamente demarcado a necessidade da subida de juros pelo outro presidente. E o Galípolo fez aquilo que ele entendeu que deveria fazer”, comentou o presidente ao justificar por que Lula não critica Galípolo no BC.

Por que Lula não critica Galípolo no BC

Ainda em 2024, já havia sinais de carta branca ao novo presidente do Banco Central, comportamento que não foi dado a seu antecessor. Ao comentar sobre um hipotético aumento de juros na gestão do próximo presidente do BC para a Rede Mais Rádios, Lula disse que não haveria problema.

“Se o Galípolo chegar um dia para mim e disser que tem que aumentar a taxa de juros, ótimo, aumente”, afirmou. A fala contribui para o entendimento de por que Lula não critica Galípolo no BC.

Como o presidente do Banco Central é uma indicação sua, por que Lula não critica Galípolo no BC está relacionado à preservação da própria imagem. A escolha por Galípolo foi chancelada pelos ministros e, reconhecer um erro agora, pode aumentar a pressão do mercado financeiro, o que causaria juros ainda maiores.

No fundo, o principal motivo por que Lula não critica Galípolo no BC é que não há perspectiva de melhora a curto prazo. Com a autonomia do BC, Galípolo ocupará o cargo até 2028. Além disso, as decisões do colegiado foram unânimes, que sinaliza que não é apenas uma questão do presidente da autarquia, como já havia alertado Campos Neto.

Na ata da reunião mais recente, de maio de 2025, o Copom alertou para problemas internos, como a desaceleração no crescimento da economia e a inflação acima da meta anual.

No cenário externo, o Copom afirmou que é preciso cautela para verificar os impactos globais das tarifas de importação determinadas pelo presidente americano, Donald Trump. De acordo com o Comitê, a instabilidade nas relações comerciais globais gera efeitos desiguais na inflação mundial e eleva a volatilidade nos mercados.

Governo culpa EUA e gestão passada

Na entrevista ao Uol nesta segunda, Fernando Haddad comentou o novo aumento na taxa de juros. O ministro reconheceu o índice brasileiro como alto e responsabilizou alguns fatores, exceto a atuação do seu pupilo frente à autarquia. A influência de Haddad tem um peso na questão de por que Lula não critica Galípolo no BC abertamente.

“Eu considero os juros altíssimos. Historicamente o Brasil pratica uma das taxas de juros acima da inflação, que é a taxa de juros real, entre as maiores do mundo por muitos e muitos anos”, comentou Haddad.

Por que Lula não critica Galípolo no BC: indicação foi aprovada por núcleo do governo – Foto: Washington Costa/MF

Apesar disso, Lula não critica Galípolo no BC. De acordo com Haddad, o atual presidente da autarquia herdou os problemas já existentes no Banco Central. Além de responsabilizar o antecessor, o governo foca no aspectos internacionais apontados na ata da reunião do Copom.

Para o chefe da Fazenda, o juros é elevado em todo o mundo devido à taxa adotada nos Estados Unidos. Atualmente, a taxa de juros americana é de 4,25%, mas no ano passado chegou a 5,5%.

“Há muito tempo nós vínhamos praticando taxas de juros muito baixas, até negativas. Hoje a taxa de juros americana está alta para padrões históricos. A nossa fica alta também”, justificou Haddad, que avaliou que os juros devem se acomodar com o tempo.