‘As crianças eram o alvo’: advogados falam sobre ação do acusado de ataque a creche em SC

Após mais de um ano do ataque a creche em Blumenau, no Vale do Itajaí, o acusado de matar quatro crianças e ferir outras cinco será julgado pelo Tribunal do Júri, a partir das 8h, no Fórum da cidade. O crime, registrado no dia 5 de abril de 2023, ficou marcado na história da cidade e impactou mudanças nos padrões de segurança escolar.

Bandeirinha com logo da creche onde ataque aconteceu

Advogados falam sobre ação do acusado de ataque a creche em SC – Foto: Eduardo Valente/Secom/Divulgação/ND

O programa Tribuna do Povo da NDTV recebeu os assistentes de acusação do caso, Vanieli Fachini Pasta e Luís Felipe Obregon, nesta segunda-feira (26). Os advogados falaram sobre os depoimentos prestados pelo acusado do ataque a creche Cantinho Bom Pastor e como o crime foi premeditado por ele.

Obregon destacou durante a entrevista que o alvo eram as crianças, não as professoras ou outros adultos da instituição de ensino.

“Ele escolheu as crianças. Por isso a escolha dele por uma creche, que foi dito por ele no interrogatório na fase policial. Ele escolheu uma creche porque era mais fácil de se chegar nas crianças”.

O assistente de acusação relembrou que o homem disse às autoridades ter passado em frente à outras creches, procurando qual seria o local onde cometeria o crime. Além disso, explicou que ele premeditou o crime semanas antes.

“Os laudos até trazem [situações] relacionadas à pesquisas dele datada de 15 de março, sobre como usar a machadinha, para que serve, então ele já estava pesquisando para fazer isso”, disse Obregon.

A advogada Vanieli ressaltou que o réu confirmou em depoimento que seu objetivo era atingir as crianças.

“Ao ser interrogado, ele foi informando algumas condições. Disse que planejou o crime por duas semanas antes. Uns depoimentos um pouco confusos também, mas teoricamente contou que planejou, que o objetivo era as crianças. Então foi extremamente planejado e calculado por ele”.

Fachada do local onde o ataque a creche aconteceu

Acusado do ataque a creche em Blumenau será julgado pelo Tribunal do Júri nesta quinta-feira (29) – Foto: Franciele Cardoso/NDTV

Postura do acusado do ataque a creche impressionou advogados

Durante a entrevista, Obregon contou que uma frase do acusado marcou muito os advogados, em que o réu se disse “muito corajoso” ao delegado, e que “fez uma coisa que ninguém teria coragem”.

Os assistentes da acusação explicaram que o homem passou por exame de sanidade mental, o qual apontou que ele tem um transtorno de personalidade antissocial. Contudo, foi comprovado que essa condição não impede que ele tenha consciência do que fez.

“Tanto é que ele fez o planejamento, ele escolheu a arma, o local, ele escolheu tudo”, enfatizou o advogado.

Conforme Obregon, o réu alegou que não estava sob efeito de drogas quando atacou as crianças. Porém, foram encontrados resquícios de cocaína de dias anteriores no exame toxicológico dele.

O advogado ainda ressaltou que o homem tinha histórico relacionados ao padrasto, em que esfaqueou o cachorro dele e tentou esfaqueá-lo também. “Não foi dado andamento nisso. Então ele até poderia ter respondido um processo antes [do ataque a creche]”, explicou.

Acusado de ataque a creche causou a morte de quatro crianças – Foto: Vinicius Bretzke/Eduardo Fronza/Reprodução/ND

Advogados falaram sobre estimativa de pena

Os assistentes de acusação comentaram sobre a condução do Poder Judiciário em relação ao caso, que chocou não apenas Santa Catarina, mas todo o país.

“O Poder Judiciário conduziu esse julgamento de uma forma muito séria, a gente fala de um ano e quatro meses, mas teve julgamento de recurso, de desaforamento a pedido da defensoria, então tudo foi negado para se alinhar, para ser julgado aqui”, explicou Obregon.

O advogado falou ainda sobre a estimativa de pena para o réu. Com um cálculo básico, seriam mais de 200 anos, para que ele assim cumpra o limite estabelecido no código penal, que é de apenas 40 anos.

Um destaque pontuado pelos assistentes é de que os presos na penitenciária de Blumenau não aceitaram a presença do acusado no mesmo local. Com isso, ele foi encaminhado para a penitenciária de segurança máxima, em São Cristóvão do Sul.

“Ele não tem convívio com ninguém, só tem convívio com os agentes que deixam a comida. Então ele fica sozinho o tempo todo”, disseram.

Penitenciária onde autor do ataque a creche está alojado

Unidade de segurança máxima integra o Complexo Penitenciário de São Cristóvão do Sul  – Foto: SAP/Divulgação/ND

Em nota, o defensor público que irá atuar no julgamento do réu enfatizou que está cumprindo seu dever legal e que “irá realizar a sua defesa a fim de que ele tenha um julgamento justo, pois todas as pessoas que cometem um crime serão atendidas obrigatoriamente pela Defensoria Pública caso elas não contratem um advogado particular”.

Mães que perderam os filhos no ataque falam sobre a espera por Justiça

Os familiares das vítimas fatais do ataque a creche falaram ao Portal ND Mais sobre a expectativa para o júri. A mãe da menina morta pelo réu falou sobre os sentimentos que vem à tona com a chegada do julgamento.

“Estamos na espera por esse julgamento há um ano e quatro meses e, desde o dia em que foi marcado a data, posso dizer que tem sido dias difíceis, de espera, angústia, um misto de sentimentos inexplicáveis”, contou.

Ela ainda ressalta que com a chegada do Tribunal do Júri, que será fechado, o coração aperta, na expectativa de que a Justiça seja feita, para que esse ciclo seja enfim encerrado.

“A gente espera que nesse dia, que todos se coloquem no nosso lugar, quem é pai e mãe, principalmente, de ter esse sentimento de que as nossas casas já não são mais as mesmas, que a nossa vida mudou totalmente”, pontuou.

Flores deixadas em frente a portão de creche

Flores foram deixadas no local do ataque ataque a creche – Foto: Vinicius Bretzke/Eduardo Fronza/Reprodução/ND

A mãe de um dos meninos mortos no ataque falou sobre o julgamento e a importância do judiciário em dar uma resposta para a sociedade brasileira.

“Esse julgamento não é só mais um julgamento, não foi só mais um crime. Ele se trata de um massacre de crianças, então não é mais um julgamento comum. Ele vem com uma grande oportunidade de transformação e mudança na lei, uma oportunidade de se fazer Justiça e, inclusive, dependendo da quantidade de pena que ele [autor] venha a pegar, talvez a gente consiga fazer com que os indivíduos pensem bem antes de cometer um crime como esse”, enfatizou.

A gestora da creche Cantinho Bom Pastor, Alconides Ferreira, informou que a instituição de ensino estará fechada no dia do Tribunal do Júri. De acordo com ela, na quinta-feira (29), todos os funcionários do local estarão presentes no julgamento do acusado do ataque a creche.

Relembre o ataque a creche

No dia 5 de abril, a Creche Cantinho Bom Pastor, no bairro da Velha, foi alvo de um ataque que matou quatro crianças e deixou outras cinco feridas.

Um homem de 25 anos pulou o muro da instituição e tirou a vida das crianças ao agredi-las com uma machadinha. Ele se entregou à polícia logo após cometer o crime.

O ND Mais não irá publicar os nomes do autor e das vítimas do ataque, assim como imagens explícitas do crime. A decisão editorial foi feita em respeito às famílias e ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), também para não compactuar com o protagonismo de criminosos.

 

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