Em entrevista ao GPS|Brasília, Wolf Maya fala sobre as quatro décadas de carreira

Em entrevista ao GPS|Brasília, Wolf Maya fala sobre as quatro décadas de carreiraJuliana Eichler

Com quatro décadas dedicadas à televisão, ao teatro e ao cinema, Wolf Maya é uma das figuras mais emblemáticas do audiovisual brasileiro. Diretor de grandes sucessos da TV Globo, como Mulheres de Areia (1993), Cobras & Lagartos (2006), Fina Estampa (2011) e Amor à Vida (2013), e por sua carreira como ator e produtor, ele também se dedica à formação de novos talentos.

Desde 2001, está à frente da Escola de Atores Wolf Maya, que chegou ao Rio de Janeiro em 2011, apresentando abordagem inovadora no ensino da interpretação. Sua Wolf Class – uma imersão técnica e dramática de três dias – permite que alunos aprimorem suas habilidades com a experiência de um mestre da indústria. O projeto não apenas forma novos talentos, mas também recebe atores experientes que buscam atualização. “Encontro alunos incríveis de todas as idades, desde adolescentes extremamente talentosos até atrizes que retornam à cena após quarenta anos”, comenta. “Ator é a única profissão que não envelhece. Sempre haverá personagens para todas as idades”.

Em visita à capital para ministrar um workshop, Wolf conversou com a GPS|Brasília sobre sua trajetória, os desafios do mercado audiovisual e suas perspectivas para o futuro. Entre os planos, revelou que deve retornar em breve à cidade para as gravações de uma nova série.

Você sempre foi movido pelo desejo de conquistar algo novo?

Olha, eu não paro de querer conquistar. Eu acho que esse é o processo da vida, não é? No dia em que eu acordar sem querer conquistar alguma coisa, eu não acordei.

Como foi sua trajetória até chegar ao teatro e à televisão?

Saí de Goiás com dez anos de idade. Toda a minha formação inicial foi feita aqui neste Planalto Central, onde vocês estão. Eu fui para o Rio de Janeiro com dez anos. Estudei no Colégio Interno, dos irmãos Maristas, depois cursei Medicina. Como todo garoto, filho de família goiana, queria ser médico.

O que te fez mudar de rumo e seguir para as artes cênicas?

Eu me interessei pela psiquiatria. Quando estava lá pelo terceiro ou quarto ano, conheci o médico francês Philippe Pinel e comecei a entrar não só tecnicamente ou fisiologicamente na mente do ser humano, mas na criatividade do ser humano. E a criatividade me fez migrar de um centro de tecnologia físico-médico para o centro de tecnologia do pensamento e da imaginação, que foi o Tablado, uma escola de arte dramática no Rio de Janeiro.

Foi nesse momento que decidiu deixar a Medicina?

Dali, ingressei no Conservatório Nacional de Teatro e fiz Medicina e teatro na medida do possível. Mas as artes cênicas foram mais fortes. Eu, com 24 anos, já estava me formando em teatro e não consegui finalizar o outro curso. Com 25, já havia feito algumas coisas muito boas e que fizeram sucesso.

Como surgiu o convite para a televisão?

Recebi um convite da TV Globo, de um cara genial chamado Boni, que resolveu rejuvenescer a emissora e chamou vários jovens diretores de teatro. Entre eles estavam eu, Jorge Fernando e Guel Arraes, que transformaram a televisão brasileira nos anos 1990, 2000 e 2010.

O audiovisual está passando por mudanças importantes com o streaming e as redes sociais. Você acha que isso impacta a formação dos atores?

Os cursos precisam acompanhar essas mudanças do mercado, porque na frente de tudo isso tem a comunicação humana, a do ator.

O que você acha dessa nova forma de consumo de conteúdo?

Eu acho maravilhosa essa amplitude da comunicação. Os streamings importados já modificam a realidade brasileira. O jovem brasileiro convive com uma dramaturgia muito mais universal do que as dramaturgias localizadas que eram exportadas ou reconhecidas, como as novelas.

As novelas ainda têm espaço nesse cenário?

Não que o nosso universo seja muito interessante de ser reproduzido. Acho que vão existir sempre novelas, só que com formatos de produção diferentes. Não tem mais aquela amplitude que um streaming pode ter. Com 180, 190, 200 capítulos, a produção se torna muito mais difícil do que com trinta ou quarenta episódios para uma história fechada.

E como você enxerga o impacto da tecnologia nesse cenário?

Os smartphones possibilitam a construção de um mundo muito mais criativo e original ao seu redor, em que você controla, convive e acredita. Mas acho que não devemos nos deixar poluir pela comunicação rasa.

Você vê as redes sociais como um risco para os jovens artistas?

Fico triste quando vejo que alguns jovens vivem só da rede social. É como se fosse o mundo da convivência barata, pequena e sem ideia. A nossa profissão é completamente calcada na verdade, o ator vive da verdade. E, às vezes, a rede social vive da mentira, da brincadeira, do passatempo.

O que você diria para os jovens que querem seguir essa carreira?

Vocês são maravilhosamente privilegiados por ter uma câmera na sua mão. Ao invés de ficar só na rede social falando bobagem, registrem o mundo, registrem a sua vida, a sensibilidade à sua volta e registrem-se na sua história.

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