Ataques de 8/1: ex-diretor da Abin admite que órgão soube na véspera a gravidade dos atos

Ex-diretor da Abin prestou depoimento ao STF nesta terça-feira (27) - Foto: Lula Marques/Agência Brasil/ND

Ex-diretor da Abin prestou depoimento ao STF nesta terça-feira (27) – Foto: Lula Marques/Agência Brasil/ND

O ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Saulo Moura da Cunha depôs no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta terça-feira (27) e afirmou que, antes do 8 de janeiro de 2023, o órgão sabia o que iria acontecer.

Naquele dia, vândalos depredaram os prédios dos Três Poderes, em Brasília. No depoimento, o ex-diretor da Abin revelou que, apesar de saber com antecedência, foi apenas na véspera que o órgão teve condições de dimensionar a gravidade dos atos que seriam feitos no dia seguinte após ver a quantidade de ônibus que chegavam na capital federal.

Chefe da Abin nos dois primeiros meses do governo Lula (PT), Cunha foi convocado como testemunha de defesa de Anderson Torres, ministro da Justiça e Segurança Pública no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e secretário de Segurança Pública do Distrito Federal no início de 2023. Torres é réu na ação penal da tentativa de golpe de Estado.

O ex-diretor da Abin disse, ainda, que o órgão não tinha conhecimento do trajeto dos manifestantes, e que essa informação só chegou para ele às 8h do próprio dia 8.

Ex-diretor da Abin é testemunha de defesa do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres - Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil/ND

Ex-diretor da Abin é testemunha de defesa do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres – Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil/ND

Ex-diretor da Abin diz que soube da dimensão do 8 de janeiro em cima da hora

De acordo com Saulo Moura da Cunha, a Polícia Federal forneceu informações sobre os ônibus na capital federal, com pessoas para o ato no dia 8. No dia 7, eram 25 veículos. No dia 8, haviam 100 ônibus na Granja do Torto, a casa de campo oficial da Presidência da República. “100 ônibus são quase 5 mil pessoas. Teríamos uma manifestação de grande porte”, afirmou.

Os alertas já estavam sendo feitos desde o dia 2 de janeiro ao Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência). Naquela data, manifestante já trocavam mensagens em aplicativos convocando para atos, sugerindo depredação das sedes dos Três Poderes. O primeiro alerta mais contundente ocorreu na noite do dia 6.

Fazem parte do Sisbin, entre outros, as secretarias-executivas do ministério da Casa Civil, do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), do Ministério das Relações Exteriores, os centros de inteligência de cada uma das Forças Armadas e do Ministério da Justiça e as diretorias de inteligência da pasta, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.

Ex-diretor da Abin diz que órgão contatou a ex-subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, Marília Ferreira de Alencar, para alertar sobre os atos - Foto: CLDF/Reprodução/ND

Ex-diretor da Abin diz que órgão contatou a ex-subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, Marília Ferreira de Alencar, para alertar sobre os atos – Foto: CLDF/Reprodução/ND

No dia 7 de janeiro de 2023, pela manhã, houve o primeiro contato com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, feito pelo ex-secretário de Planejamento e Gestão da Abin com a subsecretária da pasta do DF, Marília Ferreira de Alencar, quando foi feito um grupo para discutir os desdobramentos.

“Essas manifestações efetivamente estavam tomando vulto. Achei melhor abrirmos esse canal”, afirmou o ex-diretor da Abin. Houve sucessivos alertas ao Sisbin na manhã do dia 8, quando o órgão já sabia que os manifestantes marchariam rumo à Esplanada dos Ministérios no começo da tarde.

Marília é a única mulher entre os 31 tornados réus pelo STF. Ela teria coordenado o emprego das forças policiais do DF “para sustentar a permanência ilegítima de Jair Messias Bolsonaro no poder”, segundo a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República).

Segundo Saulo, a Abin não recebeu informações de outros órgãos via Sisbin para saber o fluxo de pessoas a Brasília nos dias anteriores ao 8 de Janeiro. “Uma boa medida para gente é da Polícia Rodoviária Federal. A PRF não passou informação de ônibus detectados na estrada”, disse.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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