Pais de menina que morreu ao chegar com dor de cabeça em UPA ganham R$ 100 mil na Justiça do AC: ‘incompetência de quem deveria salvar vidas’


Yasmin de Oliveira Pereira, de 13 anos, deu entrada em uma UPA de Rio Branco em 2019 com dor de cabeça, foi medicada, piorou e quadro evoluiu para convulsões, vômito e morte cerebral. Família entrou na Justiça pedindo a indenização por negligência e imperícia médica. Yasmin de Oliveira Pereira deu entrada na UPA com dor de cabeça e morreu cinco dias depois com morte encefálica
Arquivo da família
A família da adolescente Yasmin de Oliveira Pereira, de 13 anos, ainda sente uma revolta enorme quando relembra a forma como ela morreu em 2019. A adolescente deu entrada em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Rio Branco com dor de cabeça no dia 21 de abril e teve morte cerebral cinco dias depois.
Segundo os parentes, Yasmin teve uma crise de vômito depois que tomou uma medicação, os médicos não teriam percebido a situação e ela broncoaspirou o vômito, se asfixiou, ficou sem oxigênio no cérebro e morreu.
“Nossa maior revolta e vontade em processar o Estado foi por isso, para mostrar que a população tem sofrido com a incompetência de pessoas que deveriam salvar vidas. Essa é a maior revolta de nossos corações, pessoas que recebem tão bem, que estão para salvar e ajudar, mas, muitas vezes, tratam com descaso. Ela morreu por incompetência de quem deveria salvar vidas”, diz o irmão da menina, que pediu para não ter o nome divulgado.
Após a morte da adolescente, a família entrou na Justiça pedindo indenização por danos morais. O pedido de indenização foi aceito pela 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Rio Branco e o Estado foi condenado a pagar R$ 100 mil de danos morais. A decisão ainda cabe recurso.
A família entrou na Justiça alegando erro médico na morte da adolescente e a 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Rio Branco sentenciou o Estado a pagar por danos morais. A decisão ainda cabe recurso.
O g1 entrou em contato com a Procuradoria-Geral do Estado (PGE-AC) e aguarda retorno.
Entrada na UPA
Yasmin foi com os pais em uma UPA de Rio Branco pela primeira vez no dia 21 de abril de 2019. Ela reclamava de dor de cabeça, foi atendida, medicada e voltou para casa. No dia 22, ela retornou com a família ao hospital ainda com dor de cabeça.
A menina ficou em observação na unidade de saúde quando teve uma crise de vômito. Segundo o irmão dela, Yasmin estava sonolenta por conta do remédio que tinha tomado e não conseguiu levantar para vomitar.
Com isso, ela se asfixiou com o vômito e começou a convulsionar. “Ela não teve reação para expulsar o vômito, as pessoas não se atentaram que estava com bastante vômito e não levantaram a cabeceira da cama, o corpo estava muito mole por conta do plasil e ela broncoaspirou o vômito. Nisso, começou a ter as convulsões, foi mandada com urgência para a emergência clínica, o médico, praticamente, só observou ela ter as convulsões, não teve reação, mandou fazer algumas medicações, mas não se prontificou a fazer a intubação”, relembrou o rapaz.
A equipe da UPA solicitou a transferência da adolescente para o pronto-socorro. Contudo, conforme o irmão, a menina não foi intubada a tempo e ficou sem oxigenação no cérebro por muito tempo.
“Um médico tem que saber que quando a pessoa está tendo convulsões é porque está faltando alguma coisa no cérebro e a primeira reação é a intubação. Quando ela chegou no PS, a primeira coisa que a doutora perguntou foi porque não intubaram ela, que ela ia morrer e fez a intubação. Da saída da UPA até a chegada no PS foram mais de duas horas, já tinha faltado muito oxigênio, foram feitos os primeiros exames e detectada a morte cerebral”, lamentou.
Morte cerebral
Yasmin ficou internada no PS do dia 22 até 26 de abril de 2019, quando a equipe médica atestou o óbito. “Não temos uma prestação de saúde de qualidade. Isso é revoltante. Tanto dinheiro gasto podemos ser implementado na saúde, podemos ajudar pessoas e as pessoas estão morrendo por causa do descaso, por causa de pessoas despreparadas”, criticou o parente.
Ainda segundo o familiar, os pais da menina ficaram várias sequelas. A mãe dela faz tratamento no Hospital de Saúde Mental do Acre (Hosmac) desde a morte da filha.
“Minha mãe desenvolveu diversas doenças psíquicas. Era a única filha do meu padrasto e se ele isolou na colônia, faz tratamento contra diabetes, ficou com um desequilibro emocional. Isso pra você ver o dano que foi causado na família. A gente se apoia em Deus, era muito amada por todos, uma aluna exemplar e perdemos ela de forma precoce. Era uma menina doce, alegre, cheia de sonhos interrompidos pela incompetência de pessoas que são pagas para salvar vidas”, concluiu.
Para a família, a menina morreu por negligência da equipe médica da UPA, o que, inclusive, foi comprovado no processo.
“Portanto, restou comprovado nos autos que a causa da morte foi encefalopatia anóxica, evidenciado assim, a negligência e imperícia na prestação dos serviços médicos. A morte da criança poderia ter sido evitada caso não houvesse a desídia no atendimento pelo serviço público. Restou comprovado nos autos que o quadro clínico de Yasmin foi ocasionada por negligência médica e consequente falha na prestação do serviço”, destacou na decisão o juiz de Direito Anastácio Menezes, que responsável pelo resultado.
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